sexta-feira, 3 de junho de 2016

Um recado ao José Rodrigues dos Santos: o “romantismo” não é a mesma coisa que “racionalismo”

 

Num verbete anterior, demonstrei que o que existe em comum entre o marxismo e o fascismo, é Rousseau. A seguir faço um resumo das consequências das ideias de Rousseau no século XIX.

A vida intelectual do século XIX foi mais problemática do que a de qualquer século anterior, porque a ciência — que teve a sua fonte no século XVII — fez novas descobertas na biologia, na geologia e na química orgânica. E depois, a produção mecânica alterou a estrutura social e promoveu uma mentalidade prometaica na cultura antropológica. E, principalmente, aconteceu no século XIX uma revolta profunda contra os sistemas de pensamento em política e em economia.

Esta revolta teve duas formas diferentes: uma romântica, e outra racionalista.

A revolta romântica — que teve origem em Rousseau — vai de Byron, Schopenhauer e Nietzsche a Mussolini e Hitler; a revolta racionalista começa com os filósofos da Revolução Francesa (os enciclopedistas) e passa em Marx e vai desembocar à URSS.

A maioria dos filósofos da Revolução Francesa combinou a ciência (Positivismo) com crenças associadas com Rousseau. Helvetius e Condorcet podem considerar-se típicos da combinação de racionalismo e entusiasmo.

Os homens revoltados contra a tradição eram, como vimos, de duas espécies: racionalista ou romântica, embora, em alguns, como em Condorcet, se combinem os dois elementos. O movimento racionalista — de que fizeram parte também os apaniguados de Bentham — só veio a adquirir uma filosofia completa (um sistema) com Karl Marx.

Embora derivadas ambas da Revolução Francesa e dos filósofos imediatamente anteriores, a forma romântica de revolta é muito diferente da racionalista!

A primeira vê-se em Byron, sem traje filosófico; mas em Schopenhauer e em Nietzsche usa-se a linguagem da filosofia. A revolta romântica tende a elevar vontade à custa do intelecto; a impacientar-se com as cadeias de raciocínios, a glorificar certas formas de violência; é nacionalista; tende a ser hostil à Razão e a ser anticientífica. Algumas das suas formas mais extremas encontra-se nos anarquistas russos, mas na Rússia prevaleceu, por fim, a forma racionalista de revolta. Foi a Alemanha, sempre mais susceptível ao Romantismo do que qualquer outro país, que deu saída governamental à filosofia anti-racional da vontade nua.

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