sábado, 4 de novembro de 2017

O “Nada” não pode ser eterno

 

O Anselmo Borges escreve:

“A curto, a médio, a longo prazo, todos iremos estando mortos. Com a morte, acaba tudo? É tão próprio do ser humano saber da sua morte como esperar para lá dela. Para a eternidade vamos: a eternidade do nada ou a eternidade da vida plena em Deus”.

Onde estarei, quando deixar de existir?


Como devem reparar, Anselmo Borges vai buscar as bases ideológicas do seu (dele) texto ao Existencialismo — desde o Existencialismo cristão russo do século XIX, passando pelo hegelianismo existencialista de Heidegger e, mais tarde, também o de Habermas. Por aquele texto podemos laborar num arquétipo mental do Anselmo Borges.

Ora, se existe doutrina (ou corrente de pensamento) que eu mais deteste, é o Existencialismo (seja o cristão russo ou o de Kierkegaard, seja o hegeliano, o que vai dar no mesmo) porque é eminentemente imanente — o Existencialismo é uma espécie de monismo. Todo o Existencialismo descamba, mais tarde ou cedo, em panteísmo.

É neste contexto de um hegelianismo existencialista que Anselmo Borges escreve: “a eternidade do nada” — como se o “nada” pudesse ser eterno. Poderíamos eventualmente dizer (sem bases racionais) que “o nada é intemporal”, mas nunca que “o nada é eterno”. Um “nada eterno” é uma contradição em termos, é um absurdo — excepto para Schelling, Hegel, e outros precursores ideológicos de Karl Marx, de Heidegger e de Habermas, e mesmo Sartre.

Toda a dialéctica hegeliana (que influenciou o Anselmo Borges) baseia-se na “existência” do “Nada”. Mas notemos o que o reaccionário Nicolás Gómez Dávila escreveu acerca da dialéctica hegeliana:

“A negação dialéctica (o Nada, ou Não-ser) não existe entre realidades, mas apenas entre definições. A síntese em que a relação se resolve não é um estado real, mas apenas verbal. O propósito do discurso move o processo dialéctico, e a sua arbitrariedade assegura o seu êxito.

Sendo possível, com efeito, definir qualquer coisa como contrária a outra coisa qualquer; sendo também possível abstrair um atributo qualquer de uma coisa para a opôr a outros atributos seus, ou a atributos igualmente abstractos de outra coisa; sendo possível, enfim, contrapôr, no tempo, toda a coisa a si mesma — a dialéctica (hegeliana) é o mais engenhoso instrumento para extrair da realidade o esquema que tínhamos previamente escondido nela.”

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