quinta-feira, 5 de abril de 2018

Progresso

 

“O optimismo inteligente nunca é fé no progresso, mas esperança num milagre.”Nicolás Gómez Dávila 


“Progresso” pode ser sinónimo de “desenvolvimento”; por exemplo, o desenvolvimento de uma doença: neste caso, “progresso” é sinónimo de “transformação de estados” ou “mudança de estados”.

Porém, a noção comummente aceite de “progresso” é a de um movimento de um estado alegadamente “inferior” para um outro estado entendido como “superior”. Obviamente que a aceitação desta noção é eminentemente cultural, porque basta uma geração de bárbaros para deitar qualquer “progresso” (social ou mesmo científico) pela pia abaixo.

Por exemplo, eu não considero que a legalização e a banalização cultural do aborto ou/e da eutanásia seja um sinal de “progresso”; em vez disso, penso que se trata de mais um contributo para o triunfo da barbárie na nossa sociedade. Uma geração de bárbaros (ou desequilibrados mentais) tomou conta da nossa política.

A única área da actividade humana em que podemos falar — sem quaisquer reservas — de “progresso” objectivo, é na ciência; em todas as outras áreas da actividade humana, o conceito de “progresso” deve ser abordado com muitas reservas. Mas mesmo na ciência, o progresso é estabelecido em função de determinados pontos de referência assinalados epistemologicamente a posteriori.

A ideia romântica e/ou positivista (Hegel, Comte) segundo a qual “o progresso é uma lei da Natureza”, é um completo absurdo, como nos parece evidente.

Há quem defenda a ideia segundo a qual, “atrelados ao progresso da ciência, vieram os progressos sociais”: por exemplo, baixou a mortalidade infantil, aumentou a esperança de vida, baixou a mortalidade por doenças infecciosas, aumentou a disponibilidade de alimentos, etc.


“A estatística é a ferramenta de quem renuncia a compreender para poder manipular.”Nicolás Gómez Dávila 


Para um inveterado e fanático militante do partido nazi alemão, o Holocausto foi uma manifestação de “progresso”; para um utilitarista exacerbado actual (por exemplo, um militante do Bloco de Esquerda ou o Rui Rio), o aborto em massa e a eutanásia “à la carte” são formas de “progresso”.

Por outro lado, há hoje quem questione se a introdução do Cristianismo na cultura antropológica europeia tenha sido um progresso; muita gente pensa hoje que o Cristianismo foi uma forma de retrocesso civilizacional que deu origem a uma “Idade das Trevas” que, alegadamente, foi a Idade Média.

Portanto, há que ter muito cuidado quando falamos de “progresso” para além da epistemologia.

Por exemplo, há quem diga que o trabalho de operário fabril é menos exigente, do ponto de vista físico, do que o trabalho sol-a-sol do camponês medieval; mas esta avaliação é subjectiva; conheci pessoalmente camponeses que não trocavam a sua vida laboral no campo por um trabalho dentro de uma fábrica.

Porém, ao contrário do que acontecia na famigerada Idade Média, hoje — por exemplo — temos a pornografia infantil que decorre da tolerância elitista em relação à pedofilia, a bestialidade sexual consentida pela cultura das elites, vídeos públicos com decapitações do Estado Islâmico, o aborto em massa e a eutanásia entendidos absurdamente como “actos médicos”: o juramento de Hipócrates tornou-se obsoleto em uma cultura que transformou a “economia de mercado” em uma “sociedade de mercado”. E a longevidade, trazida pela ciência não é, em si mesma, um bem absoluto; de pouco vale um eunuco espiritual com 150 anos de idade.

A ideia de História Linear (a linearidade do tempo) surgiu com o Judaísmo da Era após o Êxodo para a Babilónia (com o surgimento dos profetas judeus que alegadamente conheciam o futuro radioso de “uma terra de riquezas e de abundância material, o paraíso na terra de Israel”); e, a partir do Judaísmo, o conceito de História Linear passou ao Cristianismo; e a ideia de “progresso” decorre logicamente do conceito de linearidade do tempo e da História — o que não acontece em muitas outras culturas, onde o tempo é cíclico. Aliás, misticismo cristão (como podemos ver por exemplo em Santo Agostinho) tem uma concepção cíclica do tempo e da História.

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