O marxismo (socialismo) não tem qualquer hipótese de vingar em qualquer tipo de sociedade, por duas razões principais:
- não considera a verdadeira importância do mercado;
- ignora a aplicação do Princípio de Pareto e da Lei Natural.
O Princípio de Pareto, baseado na observação empírica da realidade, constata que (grosso modo) 80% dos efeitos derivam de 20% de causas.
Wilfredo Pareto constatou, por exemplo, que 80% das terras em Itália pertenciam a 20% da população; ou que apenas 20% das ervilheiras do seu jardim continham 80% das ervilhas.
Hoje sabemos empiricamente, por exemplo, que 80% das vendas de uma empresa são realizadas em 20% dos clientes. Ou que 80% das reclamações recebidas em um empresa vêm de 20% dos clientes; ou que 80% da produtividade de uma empresa têm origem em 20% dos empregados; ou que 80% das vendas de uma empresa são realizadas por apenas 20% dos vendedores.
A dinâmica da economia (em qualquer tipo de organização social) conduz inexoravelmente à concentração de riqueza (não há volta a dar a isto!); mas, em um sistema político socialista — para além da subversão do mercado que origina uma economia paralela — é muito mais difícil retirar à elite socialista a sua parte da concentração da riqueza: verificamos isso mesmo com Fidel Castro (ou mesmo com Nicolas Maduro, na Venezuela), que foi um dos homens mais ricos do mundo e sem que existisse qualquer possibilidade política de o Estado cubano interferir com a sua acumulação de riqueza.
O socialismo não acaba com os ricos: apenas acaba com os ricos decentes.
Uma figura que não devemos ignorar é a de Nancy Fraser — a nova coqueluche da Esquerda Caviar: já ouvi e li, várias vezes, a Catarina Martins referir-se a Nancy Fraser. Contudo, o discurso ideológico de Nancy Fraser não coincide com o discurso político do Bloco de Esquerda em particular, e o da Esquerda em geral.
Não devemos ignorar Nancy Fraser, não porque ela tenha algum valor especial e assinalável, mas antes porque ela está na moda. Em política, as modas têm que ser analisadas seriamente. Como dizia Nicolás Gómez Dávila: “Nas Ciências da Natureza, onde impera o princípio da falsificabilidade, arquivam-se apenas os erros; nas ciências humanas, onde impera a moda, arquivam-se também os acertos”. Ou ainda: “A moda adopta filosofias que se esquivam cautelosamente dos problemas”.
Nancy Fraser aparece com um neologismo: o de “Neoliberalismo Progressista”. Podemos ver esse conceito — o de Neoliberalismo Progressista — nesta entrevista de Nancy Fraser, traduzida para o castelhano.
Segundo a Nancy Fraser, o Neoliberalismo Progressista é uma espécie de associação do Rui Rio + Assunção Cristas, com um caldinho de António Costa e José Sócrates: também está na moda; mas segundo a Nancy Fraser, o Neoliberalismo Progressista tem os dias contados com o advento de uma nova forma de populismo, que se espelha em Donald Trump, em Marine Le Pen, no Brexit, em Matteo Salvini, na Polónia, na Hungria, república Checa, etc.. Mas, segundo Nancy Fraser, o populismo não é mau de todo! (ao contrário do que diz a Catarina Martins e o José Pacheco Pereira, entre outras luminárias), porque é (alegadamente) uma manifestação política de afrontamento ao Neoliberalismo Progressista.
O Neoliberalismo Progressista é “assim a modos que” uma espécie de neoliberalismo clássico (globalismo, deslocalização das economias ocidentais, o “livre comércio” que é tudo menos livre, etc.) ao qual foi adicionado uma carrada de direitos de braguilha.
É assim que, por exemplo, a Assunção Cristas está orgulhosa por o Adolfo Mesquita Nunes ter assumido fanchona- e publicamente os seus direitos de braguilha, está orgulhosa das quotas para mulheres na gestão de empresas; ou que o Rui Rio ou o António Costa defendem a adopção de crianças por pares de invertidos.
O Neoliberalismo Progressista pega na ideologia identitária da Esquerda gramsciana (leia-se, Bloco de Esquerda), e adapta-a ao seu próprio programa ideológico — o que tem conduzido a uma radicalização progressiva do Bloco de Esquerda que tenta desmarcar-se do programa cultural do Neoliberalismo Progressista.
E à medida que o Bloco de Esquerda radicaliza à esquerda, os partidos da agenda do Neoliberalismo Progressista (Bilderberg + Pinto Balsemão + Durão Barroso, António Costa, Rui Rio, e mesmo a Assunção Cristas) vão também adoptando políticas culturais radicalizadas, como por exemplo a legalização da eutanásia. Se a Catarina Martins um dia defender a reintrodução legal da pena-de-morte, é certo que Rui Rio e a Assunção Cristas irão atrás dela.
A Nancy Fraser não é adepta da política identitária (da Esquerda marxista cultural) como estratégia principal da Esquerda — porque ela já viu que o Neoliberalismo Progressista tem vindo a substituir a Esquerda marxista cultural (por exemplo, com George Soros, Hillary Clinton, Obama, os plutocratas americanos em geral, etc.).
“En este contexto, una porción significativa de lo que podría haber sido la izquierda se ha pasado al liberalismo. Sólo hay que pensar en el feminismo liberal, el antirracismo liberal, el multiculturalismo liberal, el “capitalismo verde” y demás. Estas son hoy las corrientes dominantes de los nuevos movimientos sociales cuyos orígenes eran, si no directamente de izquierdas, al menos izquierdistas o proto-izquierdistas. Hoy, sin embargo, carecen de la más mínima idea de una transformación estructural o de una economía política alternativa. Lejos de tratar de abolir la jerarquía social, toda su postura tiene como objetivo conseguir que más mujeres, gais y personas de color entren en las élites. Por supuesto en los EUA pero también en otros lugares, la izquierda ha sido colonizada por el liberalismo”.
Ora cá está o epitáfio da Catarina Martins, decretado pela Nancy Fraser. Ademais, Nancy Fraser também não subscreve a estratégia ortodoxa do Partido Comunista da “nacionalização dos meios de produção”.
Em alternativa à política identitária do Bloco de Esquerda e à ortodoxia económica marxista do Partido Comunista, Nancy Fraser defende a aplicação do conceito vago de “reformas não reformistas”, segundo a ideia de André Gorz.
Porém, não existe sequer uma noção do que sejam as “reformas não reformistas” : é apenas um conceito, e muito lato e vago. É um conceito ideológico e intelectual do nosso Zeitgeist (e o intelectual não é aquele que pensa: é aquele que opina); e cada época baptiza absolutamente a sua anedota ideológica, como é o caso actual do conceito de “reformas não reformistas”.
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