sábado, 4 de abril de 2020

Quem diz que o povo português não é disciplinado, está errado


Concordo menos com o João Távora do que com Fernando Pessoa:


“Julgo que [a rampa ascendente de internados e de óbitos] contribuem para isso principalmente dois factores específicos da realidade cultural portuguesa, que sendo eles intrinsecamente "defeitos", por uma vez jogam a nosso favor: o nosso perfil económico e geográfico periférico e a unidade política e administrativa de Portugal, o chamado “centralismo”, que favorece a passagem fácil duma mensagem de alarme para a mobilização de uma comunidade nacional identitariamente muito sólida.”

João Távora


“Das feições de alma que caracterizam o povo português, a mais irritante é, sem dúvida, o seu excesso de disciplina. Somos um povo disciplinado por excelência. Levamos a disciplina social àquele ponto de excesso em que coisa nenhuma, por boa que seja — e eu não creio que a disciplina seja boa —, por força que há-de ser prejudicial.

(…)

Parecemo-nos muito com os alemães. Como eles, agimos sempre em grupo, e cada um do grupo porque os outros agem.”

→ Fernando Pessoa, “Ideias Políticas”


Portugal tem uma economia muitíssimo aberta ao exterior; portanto, a situação geográfica de Portugal não influi grande coisa na mitigação do fenómeno de propagação do covid19.

Também não é o “centralismo” lisboeiro: antes é o “carneirismo” do Tuga, que o Fernando Pessoa já denunciava no seu tempo. Neste caso, o carneirismo português funcionou positivamente.