sexta-feira, 21 de agosto de 2020

As asneiras acientíficas do Carlos M. Fernandes


Cita-se aqui um tal Carlos M. Fernandes, a propósito do conceito de “verdade”, em ciência:

“A ciência é o artefacto sistematizado da curiosidade humana. Como tal, está em permanente dialéctica com a ignorância, alimentando-se da dúvida, da incerteza, do risco, e, sobretudo, da liberdade de pensamento. Conceitos como consenso, autoridade e verdade, são-lhe estranhos. O conhecimento científico, «qual pluma al vento», é volúvel e entre as suas funções não se encontra a formulação de juízos metafísicos.”

Vou tentar ser o mais afável e simpático possível com o Fernandes, neste meu comentário.


Em ciência, o conceito de “verdade” faz parte do método científico (faz parte da ciência) — ao contrário do que diz aquele senhor. O que não existe, em ciência, é o conceito de “certeza — este sim, faz parte do cientismo ou da fé religiosa —; mas, ainda assim, podemos citar aqui (metaforicamente) o físico francês Roland Omnès:

“A fé do cientista é a maior que existe, porque é inconfessável.”

Por vezes pergunto-me ¿por que razão há gente (como o Fernandes) por aí a “ditar filosofia” sem a necessária preparação para tal?!

A “verdade” é a definição das condições gerais do “verdadeiro” — sendo que o “verdadeiro” (em ciência) diz respeito apenas aos domínios do conhecimento, e difere radicalmente dos outros objectos dos juízos de valor, na medida em que está determinado fixá-lo antes dos juízos e de uma forma vaga e não estruturada.


Outra asneira do Fernandes é a ideia segundo a qual a ciência não tem nada a ver com a metafísica:

“O conhecimento científico, «qual pluma al vento», é volúvel e entre as suas funções não se encontra a formulação de juízos metafísicos.”

O que o Fernandes diz é que “tudo aquilo que não é passível de ser verificado empiricamente (passo a redundância) não tem significado, em ciência”. Porém, a proposição “aquilo que não é passível de ser verificado empiricamente, não tem significado” não é, ela própria, verificável.

Isto significa que a ciência parte de um axioma metafísico (de uma espécie de dogma), por um lado, e por outro lado, verificamos que, em qualquer circunstância, a negação da metafísica é sempre uma forma de metafísica.


Aconselho o Carlos M. Fernandes a dedicar-se à pesca.