Niels Bohr afirmou que “quem não desespera com a teoria quântica, não a entendeu” [“Atomic Physics and Human Knowledge”, 1958, pág. 56]. Ou seja: qualquer abordagem à teoria quântica, do ponto de vista filosófico, é muito difícil (e do ponto de vista lógico-matemático, também).
Lendo este texto publicado pela professora Helena Serrão, estava eu a concordar com ele quando passei a discordar (passo o truísmo) a partir do ponto em que o respectivo autor nos diz que “o que a indeterminação (quântica) nos dá, é aleatoriedade”. O autor diz-nos que, na realidade quântica, as coisas acontecem de forma aleatória, ou seja, sem que exista uma ordem racional intrínseca e/ou definível pelo observador humano.
Porém, em boa verdade, a casualidade e a-casualidade (aleatoriedade), no domínio atómico, não são a expressão dos nossos conhecimentos humanos limitados, mas antes são constitutivas desse domínio da realidade. Por isso, falamos em “probabilidade objectiva”, em contraposição a uma probabilidade meramente subjectiva (aleatoriedade) baseada apenas no nosso desconhecimento das razões causais dos fenómenos.
Ou seja: não se trata de “indeterminação quântica => aleatoriedade”: trata-se, em vez disso, da expressão, por assim dizer, de uma vontade objectiva que é, na sua acção, independente da vontade do ser humano, e que tem as suas próprias razões que são independentes do nosso conhecimento ou desconhecimento circunstancial destas.
A tendência para uma ocorrência / acontecimento, no espaço-tempo, decorre de uma probabilidade (ou possibilidade) objectiva que é independente da vontade do observador humano — embora não possamos separar a matéria, por um lado, da pessoa ou do modo como a pessoa observa, por outro lado, na medida em que a observação é uma forma de medição, e a medição perturba e/ou revela o resultado da acção objectiva das “possibilidades quânticas” [Wheeler].
Por esta razão é que, por exemplo, as câmaras nocturnas de vigilância em vídeo, providas com feixes de infra-vermelhos, conseguem detectar e gravar a chamada “actividade paranormal” (observar é medir, e medir é perturbar o comportamento das partículas elementares = princípio de Heisenberg).
Sem comentários:
Enviar um comentário
Neste blogue não são permitidos comentários anónimos.