sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

¿O partido IL (Iniciativa Liberal) é de Direita? (parte 1)


Hoje, os ditos “intelectuais” insistem na ideia de que “já não existe Esquerda e/ou Direita”; a primeira vez que ouvi esta tese foi em uma entrevista radiofónica em meados da primeira década do século XXI, na rádio TSF, proferida pela militante do CDS, Teresa Caeiro; fiquei logo “com a pulga atrás da orelha”: quando uma militante proeminente do CDS (e pessoa de confiança de Paulo Portas) diz publicamente que “já não existe Esquerda e/ou Direita”, não seria de estranhar que o CDS acabasse como acabou hoje.

O que define a Esquerda ou a Direita, em primeiro lugar (há outros factores, embora menos importantes) é a mundividência (a forma como se vê o mundo e o ser humano). Obviamente, há quem se diga “de Direita” (ou de Esquerda) e, na prática, não é. Uma coisa é ser; outra coisa é parecer. Há muita gente que se esforça por parecer aquilo que não é.

Entre a Esquerda e a Direita existe uma diferença fundamental, e absolutamente irreconciliável. A Direita (a propriamente dita) escora-se no conceito de “autonomia do indivíduo” como base da liberdade inerente à Natureza Humana como algo de intrínseca- e fundamentalmente inalterável — ao passo que a Esquerda nega o conceito de Natureza Humana essencialmente perene, e acredita que pode alterá-la radicalmente através de engenheiras sociais promovidas pela elite gnóstica (gnosticismo moderno).

Por isso é que, por exemplo, o Anselmo Borges, que se diz “católico”, é de esquerda — porque acredita que a Natureza Humana pode ser radicalmente alterada por uma elite gnóstica: trata-se de um Pneumático moderno; e o mesmo se aplica ao Chico, o tal que se diz “papa”.

Ser católico, por exemplo, não significa que se é de Direita: o católico de Esquerda tem uma visão monista e imanente da realidade (por exemplo, Anselmo Borges ou o Chico), ao passo que católico de direita tem uma visão exclusivamente transcendental da realidade.

* Um indivíduo de direita segue os princípios da cultura ancestral — conforme Mircea Eliade nos relatou nos seus livros de investigação antropológica — que se baseiam no conceito de “pecado original”. O ser humano é visto (pela pessoa de direita)como um “anjo caído”, um “animal ferido” na sua origem ontológica, e o objectivo da política é o de suprir as lacunas dessa fraqueza originária humana mediante instituições fortes e que se fundamentem na herança histórica. O indivíduo de direita é um herdeiro de uma civilização, e ao mesmo tempo é o transmissor dessa civilização para as gerações futuras. Para um indivíduo de direita, a tradição é a condição do progresso.

* Um indivíduo de esquerda recusa a herança da tradição porque acredita que o futuro (a utopia, sempre presente) é portador de maior felicidade e de sempre crescente liberdade, e considera o passado como limitador dessa felicidade e dessa liberdade. Por isso, para o indivíduo de esquerda, a política significa romper com a tradição em nome de um alegado  “progresso”. Para a esquerda, o ser humano é um ser naturalmente bom (o “bom selvagem”, de Rousseau) e sem “pecado original”, que tende, pelo sentido da História, a um progresso em direcção à perfeição (Historicismo, e o “progresso” utópico visto como uma “lei da natureza”), sendo que considera que os “arcaísmos do passado” são obstáculos a ser removidos em função desse progresso rumo à perfeição do ser humano e ao paraíso na Terra — e a política é vista como uma forma de libertação desse “passado arcaico”.

Portanto, caros amigos: a Esquerda e a Direita (ainda) existem. O que se passa é que a maioria actual é de Esquerda.

Na segunda parte deste verbete irei escrever acerca deste artigo do Inconveniente.

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