“There are two kinds of people in the world: the conscious dogmatists and unconscious dogmatists. I have always found myself that the unconscious dogmatists were by far the most dogmatic.”
- G. K. Chesterton, ‘Generally Speaking.’
Eugénio Lisboa começa um texto citando Bertrand Russell:
«Aquilo de que o mundo precisa não é de dogma, mas de uma atitude de investigação científica combinada com uma crença de que a tortura de milhões de pessoas não é desejável, seja ela infligida por Staline ou por uma divindade imaginada à semelhança dos que nela acreditam.»
(Bertrand Russell)
— o mesmo Bertrand Russell que defendeu publicamente a ideia de que os americanos deveriam bombardear a ex-URSS com bombas atómicas (em uma época em que a URSS ainda não tinha a bomba atómica), para assim acabar com este país. “Cortar o mal comunista pela raiz”.
Ou seja: o Eugénio Lisboa começa mal o seu texto, porque Bertrand Russell contradiz-se barbaramente.
Bertrand Russell foi um “pacifista” que defendeu o aniquilamento atómico de praticamente toda a população soviética (de dezenas de milhão de pessoas).
Para pensar em um mundo que a ciência possa descrever, Bertrand Russell (o positivista) embriaga-se de Técnica, negando a possibilidade de dogmatismo científico — porque, em bom rigor, todo o positivista nutre-se das convicções que estrangula. Ou, como escreveu o físico francês Roland Omnès: “A fé do cientista é a maior que existe, porque é inconfessável.”
E é isto que o Eugénio Lisboa invoca, em nome de um putativo “combate ao dogma” — como se o pensamento positivista de Bertrand Russell não fosse dogmático: para que haja ciência, o positivista Bertrand Russell necessita de partir de um postulado que implica a ideia de “insignificância do universo”, porque a neutralidade axiológica não é uma conclusão científica, mas antes é um postulado metodológico do positivista.
A experimentação (empirismo) neopositivista não confirma nem refuta os axiomas matemáticos (que não são físicos!) ou os dogmas religiosos. Em bom rigor, a ciência não resolve os problemas que o Homem lhe coloca, mas antes resolve os problemas que a ciência coloca a si própria. E é este tipo de traste que fala criticamente em “dogma religioso”!