Na sequência do descalabro da “pandemia do COVID-19” e dos confinamentos promovidos por uma classe política sem escrúpulos, Mathias Desmet lançou em 2022 o livro em epígrafe cuja leitura recomendo vivamente.
Contudo, na sua crítica ao “materialismo mecanicista” (Diderot, D'Holbach, La Mettrie, etc.) em todo o livro 1/ Desmet confunde “racionalidade” e “racionalismo”; e 2/ mistura “Iluminismo” e “Criticismo”, por um lado, com positivismo e cientismo, por outro lado.
Chamamos de “racionalismo” ao conjunto de doutrinas que atribuem à razão humana a capacidade exclusiva de conhecer a Verdade e que, por isso, se opõem ao cepticismo.
Já a “racionalidade” é o diálogo incessante entre o nosso espírito, que descobre as estruturas lógicas e que as aplica no sentido da compreensão do mundo, por um lado, e o mundo real, por outro lado.
O “materialismo mecanicista”, que Desmet critica, é uma visão racionalista do mundo — e não uma visão racional do mundo.
No dito livro, Desmet identifica o “materialismo mecanicista” com o Iluminismo — quando, em verdade, o “materialismo mecanicista” identifica-se com o Positivismo e com o cientismo.
“O Positivismo é o romantismo das ciências” (“História da Filosofia”, de Nicola Abbagnano, Tomo X, §629, Editorial Presença, Lisboa, 1970), por um lado, e é o mesmo que “cientismo” — que é a atitude intelectual que se desenvolveu a partir da segunda metade do século XIX e que concede um valor absoluto ao progresso científico.
O “cientismo” concede à ciência o monopólio do conhecimento verdadeiro e atribui-lhe a capacidade de resolver progressivamente o conjunto dos problemas que se apresentam à Humanidade. A noção de “cientismo” foi fundada por Augusto Comte, com o Positivismo.
O maior filósofo do Iluminismo, Emmanuel Kant, era profundamente religioso — ao contrário de todos os enciclopedistas franceses; é famoso o conceito kantiano do “Princípio da Intencionalidade”. Para Kant, existe uma “intenção da Natureza”: embora não possamos provar que a Natureza está intencionalmente organizada, segundo Kant devemos sistematizar o nosso conhecimento empírico vendo a Natureza como se assim fosse organizada.
Kant defendeu a ideia segundo a qual a sistematização do conhecimento empírico apenas é possível se agirmos com base no pressuposto de que “uma compreensão”, para além da nossa, nos forneceu leis empíricas organizadas de modo a que nos seja possível uma experiência unificada.
Confundir o Positivismo e/ou o cientismo, por um lado, e o Iluminismo, por outro lado — é injusto para este último.