sexta-feira, 28 de junho de 2024

O Pedro Arroja e 'a moral de merceeiro inglês'


O projecto é a mediação do objecto pelo sujeito cognoscente (Gaston Bachelard, 1935).

Aqui, “objecto” é entendido (ou concebido) em termos gerais.


Pedro Arroja, aqui, diz que (em um processo de “projecto”) o “sujeito” se pode transformar em “objecto” — o que vai contra a ética cristã e/ou kantiana, por um lado.

Por outro lado, o conceito de “projecto”, utilizado por Pedro Arroja, vem directamente de Jean-Paul Sartre, que considera o próprio Ser Humano como “projecto” (para além da consciência do sujeito cognoscente), cuja existência no seu todo é dinamizada por uma “escolha original” (sic) a partir da qual o sujeito se constitui livremente (“liberdade”, no sentido existencialista e materialista segundo Jean-Paul Sartre).

O “projecto”, segundo Jean-Paul Sartre, transforma-se na maneira que o Homem tem de responder à situação em que se encontra e, por ventura, de lhe dar significado. É uma visão ateísta e antropocêntrica do ser humano.

Considerar a “pessoa” como um “projecto” é confundir o sujeito e o objecto: nenhum ente pode ser causado pelo seu próprio operar.

Não podemos dizer que “a perna é causada pelo andar”; nem podemos dizer que “a liberdade é causada pelos actos (acção) livres do homem”, da mesma forma que a visão não pode ser a causa do olho. Os actos livres do homem são um efeito, e não uma causa.

“Agimos porque somos livres”, mas “não somos livres porque agimos”. E isto porque a liberdade depende (é causada pela) da vontade do homem escrutinada pela razão.

A ser um “projecto”, a pessoa só pode ser um projecto de si mesma; e, ainda assim, neste contexto, só podemos considerar a pessoa como “um projecto de si mesma” em sentido metafísico — o que não é o caso invocado pelo Pedro Arroja.

A perspectiva da pessoa, de Pedro Arroja, é utilitarista — Karl Marx considerou, e desta vez com razão, o utilitarismo como “a moral de merceeiro inglês”.

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