quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A razão por que o Daniel Oliveira é um radical

 

Qualquer pessoa que tenha convicções sólidas é um “radical”. O problema é o de saber se essas convicções são (minimamente) racionais, ou não. Aqui, “racional” tem uma conotação com “racionalidade”, e não com “racionalismo”.

A Razão é a modalidade de pensamento inteligente que se considera capaz de servir de norma a toda a inteligência particular, ou de planear a imagem dessa norma.

A razão e a lógica estão intimamente ligadas. A lógica tem o seu fundamento abstracto — e a sua justificação — no exercício da Razão que não é uma faculdade particular, mas antes é a capacidade de o espírito ultrapassar a distância empírica entre o subjectivo e o objectivo, entre as ideias particulares e as ideias gerais. Espinoza escreve:

“Não pertence à natureza da Razão considerar as coisas como contingentes: ela toma-as, pelo contrário, como necessárias”.

Portanto, um “ser racional” tende a considerar as coisas como necessárias (necessidade), e é esta característica do ser racional que o faz ser “radical”. O problema é o de saber se aquilo que uma pessoa pensa (ou a sua convicção) é racional, ou não — se a “necessidade das coisas” é real, ou não. Ou melhor dizendo: existem radicais racionais (os que tentam seguir a Razão e a lógica) e radicais irracionais (os que agem quase sempre e apenas por instinto ou por sentimento).

Fernando Pessoa escreveu o seguinte:

“O progresso é uma revolta contra a espécie humana.”

daniel oliveira dark vaderOu seja, o progresso moderno é uma revolta contra a natureza — incluindo a natureza humana. Aqui, Fernando Pessoa é um radical propriamente dito (um radical racional), porque usa a Razão  e a lógica  para tentar descrever objectivamente a realidade da sociedade moderna. Mas ficamos sem saber se essa revolta contra a espécie humana — o progresso — é considerada, por Fernando Pessoa, negativa ou positiva; e muito menos podemos saber, segundo ele, se essa revolta contra a espécie humana é passível de transformar a própria natureza humana.

Normalmente, e na linguagem corrente, chamamos de “radicais” às pessoas que assentam as suas convicções no instinto ou no sentimento (a opinião ou a doxa, em oposição ao episteme), por um lado; e, por outro lado, os “radicais” são os que defendem uma concepção de “progresso” segundo a definição de Fernando Pessoa, ou seja, o progresso como a negação ou recusa da natureza humana. É o caso do Daniel Oliveira.

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