quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Início de um novo ciclo temporal

 

“ ¿O que é, afinal, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; mas se me perguntarem e eu quiser explicar o que ele é, já não sei”. — Santo Agostinho

O ano é medido segundo o movimento de translação do planeta Terra, o que é a demonstração de que o nosso tempo se baseia nos movimentos cíclicos da natureza. A ideia segundo a qual “a História é linear” teve origem no Judaísmo posterior ao Exílio na Babilónia, e serviu para imanentizar o Fim da História, primeiro pelos profetas judaicos, depois por cristãos gnósticos da Antiguidade Tardia, depois por marxistas, e finalmente pelos neoliberais da década de 1990 representados por Francis Fukuyama. O que é irónico é que o tempo continua a ser cíclico embora se tenha perdido essa noção na nossa cultura.

Santo Agostinho, contrariando a imanentização do Escathos da sua época, considerava o tempo como sendo cíclico, não só à medida dos movimentos da natureza planetária e das estações do ano, mas também alternando entre o tempo profano e tempo sagrado. As epifanias e as erupções do sagrado na História eram, para Santo Agostinho, o contraponto cíclico do tempo maioritariamente profano.

O tempo é cíclico e o futuro a Deus pertence. A ideia de alguma Igreja Católica, que se baseia no livro gnóstico do Apocalipse, segundo a qual “estamos nos últimos dias” — mesmo que digam que esta ideia refere-se à “qualidade do tempo” — é imanentização escatológica; é pretender ter, de alguma maneira, o futuro nas nossas mãos. Por isso é que Albert Camus dizia que “Karl Marx era cristão” (e que “Nietzsche era grego”). “Cristão” deve ser aqui entendido como “cristão gnóstico”. A força do gnosticismo cristão na Igreja Católica foi imensamente reforçado com a chegada deste Papa.

O ciclo temporal a que se convencionou chamar de 2013 foi marcado negativamente. Foi um ciclo de “quadraturas” e de “oposições” — em sentido figurado, bem entendido. “Quadraturas” que colocam “problemas” que têm que ser ultrapassados e de que os homens tiveram consciência, e de “oposições” que apenas desafiam o instinto e o inconsciente. Se esses “problemas” poderão vir a ser ultrapassados, ou não, não depende apenas da vontade dos homens, e temos também que contar com a intervenção do sagrado para os podermos ultrapassar.

Foi um ano marcado pela resignação do Papa Bento XVI, acossado e convidado a sair pela porta pequena por uma certa entourage luciferina que habita o Vaticano, e tão bem descrita pelo Padre Ariel Levi di Gualdo no seu livro “E O Diabo Fez-se Trino”. O corolário lógico do afastamento de Bento XVI foi a eleição de um representante consentâneo com a Trindade Diabólica que hoje comanda os destinos da Igreja Católica.

Na Europa assistimos a um fim de ciclo: a União Europeia e o Euro caminham para a extinção, ou porque a utopia foi abandonada, ou porque a utopia foi apenas um instrumento que serviu para enganar os tolos do sul e alimentar o retorno forçado dos fundos comunitários aos países do norte da Europa.

Em Portugal precisamos de mais trabalho, mas também de mais orações: precisamos de complementar o trabalho físico com o trabalho espiritual, e de nunca esquecer que a História não é definida pelos homens.

Votos de Um Positivo Novo Ciclo!

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