domingo, 12 de janeiro de 2014

O CDS/PP não é um partido democrata-cristão

 

A diferença entre a doutrina social da Igreja Católica (DSIC) , por um lado, e a sua adopção ideológica por parte de um partido democrata-cristão, é a de que a DSIC não é imposta à sociedade pela Igreja Católica: adere a ela quem quer — ao passo que a lógica partidária é a de imposição ideológica do seu ideário logo que chegue ao Poder.

Um partido democrata-cristão é aquele que tem como base do seu ideário político a doutrina social da Igreja Católica que, por usa vez, ainda hoje mantém válida a encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII. Sendo assim, o CDS/PP não é um partido democrata-cristão; aliás, nos seus estatutos fala-se apenas em “inspiração cristã”. E assim como Mário Soares meteu um dia o marxismo na gaveta, Paulo Portas meteu a inspiração cristã noutro sítio qualquer: basta que Adolfo Mesquita Nunes seja o benjamim e um protegido de Paulo Portas, para que o CDS/PP seja um partido tão neoliberal quanto o Partido Social Democrata de Passos Coelho.

Perguntar-me-ão: ¿existem militantes ou simpatizantes do CDS/PP que sejam católicos confessos? Claro que existem, assim como existem católicos que votam no Partido Socialista, e mesmo católicos alentejanos que votam no Partido Comunista. E isto significa uma coisa muito simples: não existe, em Portugal, um partido democrata-cristão propriamente dito. Ponto final.

Portanto, este texto parte de um princípio errado: o de que o CDS/PP é um partido democrata-cristão. Nem sequer podemos dizer que o Partido Popular espanhol, de Rajoy, seja democrata-cristão. Na União Europeia já não existem partidos democrata-cristãos, com excepção de alguns países que ainda estão fora do Euro, como por exemplo na Hungria.


O que eu não consigo perceber é como se defende que o “combate à partidocracia” deve ser realizado através da imposição de um partido único — o tal “partido tradicionalista”, que teria, então, o monopólio da partidocracia. Digamos que a partidocracia seria reduzida a um só partido e sem possibilidade de contraditório político.

Em contraponto, eu defendo que devem existir na nossa sociedade alguns mecanismos de democracia directa, para que o povo assuma as suas responsabilidades e não esteja sempre a atirar as culpas para os outros — para os partidos e para a classe política. E defendo que os políticos devem ser responsabilizados criminalmente em caso de gestão danosa da coisa pública — por exemplo, José Sócrates deveria ter sido julgado em tribunal.

Portanto, a forma de combater a partidocracia é retirar poder aos partidos através de alguns mecanismos de democracia directa, e não conceder a um só Partido Tradicionalista o poder absoluto.

2 comentários:

  1. Adolfo Mesquita Nunes é Benjamim de Paulo Portas? Eu já os vejo juntos em privado de férias aqui no Dubai há pelo menos 5 anos portanto já devem ser marido e marido. Adolfo Mesquita Nunes o acompanha em todos os cargos profissionais há mais de 14 anos, desde as eleições para o Parlamento Europeu em 1999. Sempre juntinhos... mas separados. O problema é que o benjamim AMN assinou uma moção a este congresso que defende o casamento entre um homem e uma mulher. O que é uma palhaçada, sendo ele marido do líder do partido... hipocrisia levada ao extremo num país de políticos sem moral...

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    1. O seu comentário merecia um verbete exclusivo, porque uma idiossincrasia subjectiva de uma pessoa não implica necessariamente que essa idiossincrasia seja imposta coercivamente a toda a sociedade. Ou, por outras palavras: o facto de uma pessoa ser gay não significa necessariamente que essa pessoa tente impôr à sociedade o "casamento" gay. Por exemplo, o gay Elton John é contra o "casamento" gay.

      O seu argumento é comum em Portugal: é uma falácia Ignoratio Elenchi, porque confunde a subjectividade de uma pessoa com a objectividade da sociedade.

      http://sofos.wikidot.com/ignoratio-elenchi


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