quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O Pragmatismo é, mais ou menos, como o cardeal Bergoglio

 

O Pragmatismo é uma doutrina do “óbvio aparente”. Por exemplo, é próprio de um pragmatista a seguinte proposição: “as coisas existem porque existem”; ou ainda: “se um diamante não fosse lapidado não seria diamante” 1.

A principal característica do Pragmatismo é ser pragmatista; e as outras características do Pragmatismo, também; por isso é que é surpreendente que o Pragmatismo tenha sequer concebido a ideia de Pragmatismo, o que só se pode explicar porque se trata de uma metafísica que nega qualquer metafísica.

Quando uma metafísica se nega a si própria enquanto metafísica, e nega também qualquer metafísica que não seja a sua (que já era negada a priori), estamos em presença de uma tautologia, que é a constatação do óbvio (por exemplo, “a luz é luminosidade”, o “tempo é temporal”, “o universo é universal”, “a Lógica é lógica”, etc.).

Dou um exemplo do “método pragmático”:

“Face a duas teses metafísicas, o problema é o seguinte: se uma dada concepção, e não outra, fosse verdadeira, ¿que diferença resultaria na prática, para o homem? Nenhuma!” 2

Ou seja, segundo o Pragmatismo, mesmo que uma tese metafísica fosse verdadeira — no sentido pragmatista de “ter sido verificada pela ciência” —, na prática e para o homem não significaria nada por ser verdadeira. Segue-se que a tese metafísica pragmatista implícita naquela proposição, mesmo que fosse verdadeira (no sentido da verificação), não significaria nada, na prática, para o homem. Ou seja, e concordo, o Pragmatismo não significa nada para o homem.

O Pragmatismo é subjectivamente anti-subjectivista, e é idealisticamente anti-idealista. Por exemplo:

“A única função da filosofia deveria ser a descoberta da diferença que resultaria — para vós e para mim, em certos e determinados momentos da nossa vida — desta ou daquela concepção do universo ser a verdadeira”. 2

Por um lado, o Pragmatismo coloca-se “de fora” da filosofia 3 — na medida em que não é o seu objecto “descobrir a diferença que resultaria desta ou daquela concepção do universo”, porque, alegadamente, isso é metafísica e, também alegadamente, o Pragmatismo pretende ser a negação de qualquer metafísica.

Mas, por outro lado, ao definir a “única função da filosofia” do modo como o fez, o Pragmatismo já se coloca “dentro” da filosofia e da metafísica. E, finalmente, se descobríssemos (em relação e em função da nossa subjectividade) “a diferença que resultaria, para nós, desta ou daquela concepção do universo ser a verdadeira”, o Pragmatismo adopta uma certa subjectividade sendo anti-subjectivista.

O Pragmatismo é como o cardeal Bergoglio: é, mas não é. Ou, melhor: não é, mas é. Em suma: depende.


Notes
1. ambas as proposições não são válidas: por exemplo, um diamante em bruto não deixa de ser diamante, e as coisas existem porque existe pelo menos uma causa para elas
2. W. James, “O Pragmatismo”, 1907
3. tal como o marxismo que também se colocou “de fora” da filosofia

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