segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Um exemplo de como não se deve fazer uma crítica

 

1/ Todo o ser humano tem crenças, e há crenças que se aproximam mais da verdade do que outras. Ou seja, há crenças que em princípio são falsas (embora possam ter alguma coisa de verdade) e outras que são verdadeiras (no sentido de se aproximarem mais da verdade, porque é impossível ao ser humano inferir qualquer verdade absoluta senão através da concepção lógica de “Absoluto”).

O que nós devemos criticar são as crenças, e não as pessoas que têm crenças — porque todas as pessoas têm crenças. Quem critica pessoas apenas porque têm crenças, é um narcisista.

2/ Ser “intelectual” não é ter um discurso gongórico que ninguém percebe — porque a forma de apelar ao complexo, parte de ideias simples. Não é possível, por exemplo e em princípio, ensinar a uma criança de seis anos o cálculo diferencial ou infinitesimal; por isso é necessário que ela aprenda coisas mais simples, como a sequência dos números naturais, para que depois possa ter acesso ao pensamento mais complexo. Reparem nesta crítica a Olavo de Carvalho:

“Ele (Olavo de Carvalho) não tem o gabarito intelectual Gudin ou Simonsen, mas, talvez por isso mesmo, é mais fácil de ler. Quem não é afeito a leituras tem a alternativa de ouvi-lo em vídeos postados no YouTube.

Em consequência de tudo isso, ele acabou tendo apelo sobre pessoas de capacidade limitada de absorção de ideias mais complexas.”

Aqui, a noção de “intelectual” é o de uma pessoa que não é minimamente compreensível pelo homem da rua. É este o conceito esquerdista de “intelectual”, que impera desde Karl Marx e que tem marcado a Academia. E é este conceito de intelectual academista, esquerdista e fechado à sociedade — formando uma elite académica de auto-iluminados, normalmente de esquerda — que foi recusado por Olavo de Carvalho, entre outros. Por exemplo, Karl Popper seguiu o mesmo paradigma de recusa do intelectual academista e gongórico.

O discurso público do intelectual deve ser simples tanto quanto possível e principalmente dirigido ao cidadão médio — ou àquilo que se considera ser o “cidadão médio”.

3/ Para que possamos dizer que “Fulano não tem o gabarito intelectual de Sicrano”, temos que dizer por quê. Não basta um afirmação: temos que a justificar. Afirmar sem justificar é dogma, e não ciência.

Em princípio, comparações destas são estúpidas, porque teríamos que, em primeiro lugar, saber o que significa “gabarito intelectual”. ¿Como se pode medir o “gabarito intelectual”? Será através das palavras tonitruantes e gongóricas que a maioria das pessoas não entende, e que pretendem afirmar uma qualquer autoridade de direito e independentemente da respectiva autoridade de facto?

Devemos analisar criticamente as ideias de uma pessoa independentemente da pessoa considerada em si mesma. Naturalmente que um filósofo ou um cientista de nomeada merecem, à partida, uma maior credibilidade do que um qualquer cidadão anónimo — mas isso não significa que a opinião de um cidadão anónimo esteja condenada a estar errada só porque ele é anónimo.

4/ Olavo de Carvalho não pertence, em minha opinião, a uma certa “Direita politicamente correcta”: basta verificar a sua (dele) crítica ao globalismo — existe uma Direita politicamente correcta, a que eu chamo de “Direita Goldman Sachs”. Portanto, a seguinte proposição é uma falácia do espantalho:

“A direita se vulgarizou com ele. Com Olavo de Carvalho tomou vulto no Brasil o que podemos definir como direita para dummies.”

Pelo contrário, através da sua crítica aos globalismos — incluindo o globalismo da plutocracia ocidental —, Olavo de Carvalho distancia-se de uma certa Direita politicamente correcta que, essa sim, parece ser o alvo da crítica maniqueísta do referido texto, mas que me parece não ser aplicável ao caso do pensamento de Olavo de Carvalho.

5/ Este tipo de crítica pessoal está errado, porque se concentra na pessoa (ad Hominem) e não nas ideias dessa pessoa. É uma crítica profundamente errada, na sua essência e no seu fundamento, e que devemos sempre evitar.

Em uma crítica às ideias e crenças de uma pessoa, qualquer qualificativo pessoal deve ser justificado a partir das próprias ideias, e não o contrário disto, como faz o escriba, invertendo a lógica da análise crítica. É tempo de aprendermos o seguinte como sendo certo: a falácia ad Hominem  — a crítica que se concentra na pessoa, enquanto tal — revela sempre e invariavelmente alguém que não tem razão na crítica que faz.

3 comentários:

  1. Será que há em Portugal pessoas dispostas a ouvir Olavo de Carvalho.
    Nós podemos trazê-lo.
    Carlos Fernandes, PPV

    ResponderEliminar
  2. "Há claros indícios de que, neste mesmo momento, uma equipe de centenas de militantes esquerdistas universitários está ciscando picuinhas a granel nos meus artigos e programas de rádio para compor uma "crítica devastadora" do Olavo de Carvalho, mais ou menos do tipo que saiu contra o Paulo Francis logo antes da morte dele, sob a assinatura de Fernando Jorge e com o patrocínio da Petrobrás (v. “Galo de bigodes” em O Imbecil Coletivo , 5ª. edição). A coragem e a honestidade desse pessoal são a oitava e a nona maravilhas do mundo." por: Olavo de Carvalho

    ResponderEliminar
  3. grande Orlando sempre perfeito,mas tu não sabes a devastação que a esquerda,fez na Alta Cultura neste pais

    ResponderEliminar

Neste blogue não são permitidos comentários anónimos.