terça-feira, 29 de abril de 2014

A ligação entre a consciência e a quântica


À medida que a ciência teórica (fundamentada pelo formalismo matemático) evolui, vai corroborando aquilo que até há pouco tempo era considerado pelo positivismo como “mitos das sociedades arcaicas”. Até a noção de “Multiverso” pode ser vista como o resultado da possibilidade que o formalismo matemático tem de penetrar em dimensões da realidade que escapam aos nossos sentidos. Convém que se diga que a noção de Multiverso não anula o problema da “causa primeira” (Aristóteles), nem torna infinito o universo ou qualquer “universo paralelo” material.

O cientista americano Robert Lanza (considerado pelo NYT como um dos três cientistas mais importantes da actualidade) lançou uma nova teoria a que chama de Biocentrismo, que consiste, grosso modo, na ideia segundo a qual  a vida e a consciência são fundamentais para o universo, por um lado, e por outro  lado, é a consciência (não nos referimos aqui apenas à consciência humana) que cria o universo material, e não o contrário disto. O Biocentrismo de Robert Lanza aproxima-se das teses do físico Amit Goswami.

Isto significa pelo menos duas coisas: que o epifenomenalismo está definitivamente colocado em causa, e que, por isso, chegou o momento de os editores do blogue Rerum Natura, envergonhados, irem embora para casa sem fazer ruído.

Assim como se demonstrou em laboratório a característica da não-localidade das partículas elementares, assim também a não-localidade é uma característica da consciência. O “problema” do Biocentrismo tem a ver com a aceitação do Multiverso como “universos materiais paralelos” (sublinho: materiais), e não apenas como o reconhecimento de “realidades ontológicas diferenciadas”. John Polkinghorne, um físico de partículas de Cambridge, escreveu no seu livro “Beyond Science”:

“É a matemática que nos dá a chave para abrirmos as portas secretas da natureza. Este conceito não é facilmente apreensível por todos, mas para aqueles que se expressam na linguagem matemática, a beleza matemática é uma qualidade evidente e reconhecida. Em suma, a matemática desponta da livre exploração racional da mente humana, o que parece indicar que as nossas mentes estão de tal modo sintonizadas com a estrutura do Universo que são capazes de penetrar nos seus segredos mais profundos.”

perth_tearoom_ghostO “problema” do Multiverso acontece aquando da interpretação dos dados matemáticos pela comunidade científica, sobretudo se essa interpretação é condicionada pelo preconceito ateísta e pelo actual paradigma darwinista. Ou seja: o formalismo matemático aponta para uma realidade para além do universo, e o preconceito ateísta conclui que essa realidade consiste em um Multiverso material, infinito e sem causa — porque o que é importante, para o paradigma científico positivista, é a negação metafísica de qualquer metafísica (o que é uma contradição em termos).

O absurdo do paradigma da ciência positivista é o de sentir uma necessidade absoluta de erradicar qualquer noção de absoluto, e a ponto de colocar em causa o corolário da teoria do Big Bang através de uma interpretação da Teoria de Cordas que conduza à conclusão de que, afinal, o Multiverso material é infinito (a realidade material tem que ser infinita “à força”, dê por onde der!); e a ciência positivista torna-se absurda no sentido em que, por definição, se baseia no nexo causal, por um lado, mas, por outro  lado, e através da noção de Multiverso infinito, recusa qualquer nexo causal para a existência da matéria que, alegadamente, coexiste nos “infinitos universos paralelos”.

Para o homem das ditas “sociedades arcaicas”, a existência de cada coisa começa no tempo e há um tempo especifico para cada coisa 1 : antes que o Cosmos viesse à existência, não havia tempo cósmico. Antes que tal espécie vegetal ter sido criada, não existia o tempo que a faz crescer agora, dar fruto e perecer. O tempo jorra com a primeira aparição de uma nova categoria de existentes.

Nota
1. [Mircea Eliade, “O Sagrado e o Profano”]:

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