quarta-feira, 30 de abril de 2014

É preciso dizer ao cardeal Bergoglio que o Cristianismo não é uma ideologia política

 

Uma coisa é apelar à consciência da sociedade em geral, e dos ricos em particular, não no sentido de instituir a igualdade, porque isso é impossível, mas no sentido de garantir o mínimo de dignidade existencial a toda a gente. O “mínimo de dignidade existencial para toda a gente” significa a possibilidade de acesso aos cuidados de saúde conforme os rendimentos de cada cidadão, o acesso das crianças à educação, e o acesso à dignidade do trabalho.

Twitter-Pontifex-Inequality

Outra coisa, bem diferente, é dizer que “o mal do mundo são os ricos”, como fez o cardeal Bergoglio de uma forma implícita no Twitter. Esta postura, vinda de um papa, é inédita. O próprio Jesus Cristo não condenou directamente dos ricos, mas apenas os ricos avarentos. E, em muitas parábolas, Jesus Cristo utilizou o conceito de meritocracia: por exemplo, na parábola do rendimento dos dons (Lucas, 19,11; Mateus, 25,14).

E mesmo na passagem do homem rico (Lucas, 18,18; Mateus 19,16; Marcos, 10,17), o convite de Jesus ao despojamento material é extensivo a toda a gente, e não apenas aos ricos: “Não há ninguém que tenha deixado casa, mulher, irmãos, pais e filhos, por causa do Reino de Deus, que não receba muito mais no tempo presente e, no tempo que há-de vir, a vida eterna”. Mas Jesus sabe que apenas uma minoria adopta este despojamento, porque, se assim não fosse, não seria possível a continuidade da humanidade (se toda a gente abandonasse a casa, a mulher e os filhos, mesmo que fosse por causa do Reino de Deus, seria uma catástrofe social e a humanidade acabaria).

O cardeal Bergoglio teria a obrigação de saber interpretar as Escrituras. “Teria”, mas parece que não tem qualquer obrigação. Por debaixo de uma falsa e hipócrita humildade, ele sente-se acima das Escrituras e tenta transformar a religião cristã em uma ideologia política.

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