quarta-feira, 9 de abril de 2014

O David Marçal (e o blogue Rerum Natura) representa o que há de pior na mentalidade cientificista em Portugal

 

Em relação a mais esta escrevinhação do David Marçal, escolhi uma citação de um pensador ateu, para que fique acima de qualquer suspeita “supersticiosa”:

“Os técnicos que utilizam a técnica científica e, ainda mais, os governos e as grandes indústrias que utilizam os técnicos adquirem uma mentalidade completamente diferente da que caracteriza o homem de ciência, uma mentalidade onde impera a convicção de um Poder ilimitado, de uma certeza arrogante e de um prazer em manipular o material humano”.

(…)

A esfera dos valores está fora da ciência, salvo no que diz respeito ao facto de a ciência consistir na investigação do saber. A ciência, enquanto investigação do saber, não deve ser um obstáculo à esfera dos valores, e a técnica científica, se pretende enriquecer a vida humana, não deve superar os fins que deveria servir.”

- Bertrand Russell 1 



O David Marçal (e os outros) precisam de ler, por exemplo, o ateu Bertrand Russell (para não falar em outros ateus empedernidos como, por exemplo, Sir Fred Hoyle) e da sua Teoria do Conhecimento. O próprio Russell demonstra que é impossível à ciência “esclarecer os temas tabu” (pelo menos alguns temas tabus), como contrariamente defende David Marçal. 2

Acerca da guerra da “ciência” (que se confunde hoje com cientismo) em relação às religiões em geral, e embora Russell, como bom ateu, reconheça a falsidade da religião, diz ele que o corolário dessa guerra será uma “nova ética” que “tenderá a fazer sofrer os indivíduos a fim de salvar o bem público, e isto sem se sentir obrigada a provar que esse sofrimento seja merecido”. Ou seja, a “nova ética”, segundo Russell, será totalitária. E é essa essa “nova ética” que é defendida no blogue Rerum Natura — não só por este ataque do David Marçal em relação à religiosidade dos indivíduos relatados nas peças da RTP, mas pela própria orientação editorial, em geral, daquele blogue.

Notas
1. citado na “História da Filosofia” de Nicola Abbagnano, § 804
2. “O Conhecimento Humano, o seu âmbito e os seus limites” (1948)

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