sexta-feira, 25 de abril de 2014

Portugal, 40 anos depois da revolução

 

marcello caetano"Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava a caminho de se transformar numa Suíça, o golpe de Estado foi o princípio do fim. Resta o Sol, o Turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crónica e a emigração em massa."

"Veremos alçados ao Poder analfabetos, meninos mimados, escroques de toda a espécie que conhecemos de longa data. A maioria não servia para criados de quarto e chegam a presidentes de câmara, deputados, administradores, ministros e até presidentes de República."

Marcello Caetano

Não sei se seríamos hoje uma Suíça; é impossível dizer o que seríamos hoje se não tivéssemos sido o que fomos ontem. O que podemos dizer, com alguma segurança, não é “o que seríamos hoje”, mas “o que não seríamos hoje” — porque quando as nossas utopias fracassam, deparamo-nos com a realidade por detrás da nossa construção utópica da realidade.

Mas, na medida em que só podemos explicar o nosso fracasso por intermédio dos conceitos que utilizámos no passado para a construção das estruturas utópicas falhadas, segue-se que nunca chegamos a ter uma imagem do mundo que pudéssemos responsabilizar pelo nosso fracasso — porque mesmo as críticas feitas à utopia utilizam os conceitos da utopia.

A única forma de tentar sair do labirinto do fracasso utópico é tentar sair para fora da utopia; ignorá-la completamente. Ou então, ignorar as elites responsáveis pela utopia.

Com excepção da “transformação em uma espécie de Suíça”, Marcello Caetano acertou: vemos hoje analfabetos funcionais alçados ao Poder, com cursos homologados ao Domingo ou tirados em apenas 1 semestre; meninos mimados, que nunca trabalharam a sério, em lugares de primeiro-ministro e ministros; deputados escroques; e até um presidente da república que não fez o liceu e não sabe escrever correctamente.

“Resta o Sol, o Turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crónica e a emigração em massa”.

8 comentários:

  1. Hoje é dia para revisitar o "Portadaloja"

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  2. Premonitório! Deus guarde a alma do prof Marcello Caetano!

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  3. O Orlando por acaso sabe onde e quando é que Marcello Caetano fez essas afirmações?

    Só gostaria de saber para localizar a fonte histórica e poder registá-la, pois dá sempre jeito...

    Abraço,
    João Nobre

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    1. "A Verdade Sobre o 25 de Abril" (1976), livro de Marcello Caetano.

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    3. Caro Orlando,

      Parece que pelos vistos alguém distorceu propositadamente as afirmações de Marcello Caetano.

      Veja aqui:

      http://abemdanacao.blogs.sapo.pt/marcello-caetano-e-o-facebook-1186198

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    4. Estamos a falar de dois livros diferentes, com duas citações ligeiramente diferentes. Por exemplo, no livro de Marcello Caetano “Minhas Memórias de Salazar” (que também comprei!), 1977, edição IV de 2000, editorial Verbo, aparece um trecho muito parecido com os dois citados.

      Repare bem: um conceito “âncora” pode aparecer escrito de formas ligeiramente diferentes por um escritor em diferentes livros — o que não significa que apenas um trecho citado seja o verdadeiro.

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    5. Adenda: e mesmo que o trecho tenha sido adulterado (que não foi!), é a essência que conta e não a forma. Dar muita importância ao formal em detrimento do conteúdo não me parece bem.

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