sábado, 31 de maio de 2014

O neoliberalismo diz que “matar uma pessoa é melhor do que matar três pessoas”

 

No Brasil, devido à grande influência do partido marxista de Dilma Roussef, está na moda defender a ideia segundo a qual “a ética marginalista é melhor do que a ética marxista”. É falacioso que se utilize as ideias de Karl Marx para justificar as ideias de Carl Menger ou de Hayek — como se faz aqui.

Seria como se eu dissesse que “matar uma pessoa é melhor do que matar três pessoas”: o foco do argumento desloca-se para a quantidade de pessoas assassinadas e, assim, desvia-se do acto assassino. Trata-se de uma falácia da mediocridade (para além de ser uma falácia de double blind): nivela-se por baixo (com a bitola do marxismo) para se justificar a ética marginalista na economia.

Não é possível separar a ética, por um lado, da economia, por outro lado. Aliás, não é possível separar a ética de qualquer actividade humana, incluindo a política. E por isso não é possível separar a ética do marginalismo, por um lado, da economia e da política, por outro lado.

O “paradoxo do valor”, defendido pelo marginalismo, é evidentemente um paradoxo. Em lógica, um paradoxo é um raciocínio que conduz a consequências contraditórias ou impossíveis, mesmo quando não lhe conseguimos encontrar o defeito.

A utilidade do paradoxo é muitas vezes articulada a uma concepção negativa da opinião (por exemplo, nos diálogos de Platão), concebida como obstáculo à busca da verdade: ou seja, o paradoxo pode transformar-se em um instrumento de dogmatização de uma ideia ou de um conceito. O paradoxo do valor é utilizado como forma de dogmatizar a ética marginalista.

Existe uma ligação directa e íntima entre a ética de David Hume (relativismo moral), a ética do marginalismo (Carl Menger e Walras e Stanley Jevons), a ética utilitarista (de John Stuart Mill, Ayn Rand), e o neoliberalismo  (de Hayek, escola de Chicago).

É evidente que a concepção anti-utilitarista de Karl Marx (como a de Nietzsche) não faz sentido, porque as coisas têm uma utilidade objectiva. Mas o que o marginalismo fez foi perverter e adulterar a noção de “utilidade” — e essa perversão não pode ser justificação para a crítica a Karl Marx. Matar uma pessoa não é melhor do que matar três.

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