segunda-feira, 16 de junho de 2014

O intelectualismo pragmatista da Raquel Varela

 

A Raquel Varela escreveu um verbete que foi apagado. Porém, o texto ficou no FEED (não sei como traduzir isto para português; quem souber, que me ensine, sff.) e pode ser lido aqui em ficheiro PDF.

A Raquel Varela começa por dizer que um intelectual “tem que ter produção independente, teórica ou de mérito sobre a sociedade”.

Falta saber quem atribui o “mérito”; normalmente, o mérito é produto da moda do Zeitgeist. Por exemplo, sabemos que, a Fernando Pessoa, pouca gente atribuiu o mérito que ele merecia enquanto foi vivo. Pouca gente considerou Fernando Pessoa um “intelectual” antes da sua morte.

Aqui, “intelectualidade” é identificada com “ciência positivista”. Um intelectual é — segundo a Raquel Varela — alguém que produziu e publicou trabalhos, artigos, ensaios ou livros para “peer review”, como acontece, por exemplo, nas ciências naturais.

“Intelectualidade” significa aqui “utilidade”, no sentido de “rentabilidade” e de “negação do gratuito”.

O pensamento tem que “servir para alguma coisa”; e “servir para alguma coisa” significa que tem ser circunscrito ao dia-a-dia do homem em sociedade; tudo o que saia do ramerrão quotidiano é considerado “pura especulação metafísica” — como se uma qualquer negação da metafísica não fosse uma forma de metafísica.

Neste sentido, um filósofo não pode ser um intelectual porque a filosofia (entendida neste sentido por Raquel Varela) “não serve para nada”; não tem uma utilidade pragmática. Ou só se pode considerar filósofo quem submeter escritos para “peer review” — o que reduz o estatuto de “filósofo” aos académicos. Impera aqui a autoridade de direito sobre a autoridade de facto.

Segundo a Raquel Varela, um intelectual nega a gratuitidade do pensamento: o pensamento tem que servir para alguma coisa prática e palpável (a “práxis” marxista): não existe um “espaço grátis” no pensamento. O “espaço grátis” no pensamento é considerado “pura especulação”. O pensamento só tem utilidade se se basear no empírico, por um lado, e por outro lado se corroborar aquilo que à partida se tinha concebido como sendo a “verdade” pela ideologia (Petitio Principii).

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