Antes de mais nada: A Ordem dos Médicos de França considera que a "barriga de aluguer" é prejudicial para a criança, tanto nos aspectos éticos, médicos, sociais e jurídicos. Não há nenhuma razão objectiva por que a Ordem dos Médicos de Portugal não siga o mesmo critério senão por colagem ideológica e política ao Partido Socialista (e à ala esquerda do Partido Social Democrata).
Não é só o útero da mulher que é “alugado”: é o corpo dela inteiro que é “alugado”! (ver este vídeo).
Portanto, a primeira objecção no comentário (se é ou não prejudicial às crianças) está respondido — a não ser que os médicos franceses sejam uns “ignorantes” (essa gente trata toda a gente que os contraria de “ignorantes”).
A segunda objecção do comentário é o do “julgamento dos outros”: o comentarista julga (faz um juízo de valor acerca da Helena Matos) a Helena Matos alegadamente por esta “julgar os outros”. Ou seja: só ele tem o direito de “julgar os outros”.
A primeira parte está respondida — a não ser que os médicos franceses sejam “ignorantes”.
A ideia de “contrato exclusivo entre adultos” ignora dos direitos da criança — como é evidente. Mas há gente que não vê ou não quer ver. Ademais, a Declaração dos Direitos da Criança diz que “uma criança, salvo condições excepcionais, não deve ser separada da mãe” (biológica).
“Pergunto-me se também pensa proibir que uma mãe entregue uma criança para adopção? Não seria isso um acto “pior” que este que deseja proibir?”
Aqui, o argumento é uma falácia da mediocridade: segundo este raciocínio, pelo facto de existirem assassinos em série, o assassínio qualificado deveria ver a sua pena reduzida ou ser mesmo despenalizado. Pega-se em uma situação extrema e de desgraça de uma mãe que, por quaisquer razões, abandona o filho, e depois tenta-se a generalização dessa situação para justificar qualquer outro comportamento ou atitude em relação às crianças em geral.
Em primeiro lugar, compara-se a "barriga de aluguer" com os bancos de esperma; ou seja, o esperma e o embrião e o feto são colocados no mesmo plano de valor. Um espermatozóide é considerado a mesma coisa que um feto.
Em segundo lugar, considera-se implícita ou explicitamente que os bancos de esperma são uma coisa positiva — o que é altamente controverso.
Em terceiro lugar, utiliza-se o conceito de “liberdade” levado ao limite do Notrecht (direito de necessidade): alguém que passa fome, por exemplo, é “livre de trabalhar todo o dia para comer uma côdea”. E esta gente é de esquerda!!
Em quarto lugar, a liberdade não é só negativa: também é positiva. (ver liberdade negativa).
Finalmente, a ideia segundo a qual “não me cabe a mim legislar sobre os sentimentos alheios”. Aqui, o raciocínio é semelhante àqueloutro que diz que “a Helena Matos não tem o direito de fazer julgamentos sobre os outros, e apenas eu tenho o direito de fazer julgamentos acerca dos julgamentos da Helena Matos”. Ou seja, parte-se de um pensamento circular ou de uma falácia Petitio Principii: recusa-se o juízo de valor a quem não concorda com a comentarista, mas ela própria emite um juízo de valor ao recusar qualquer juízo de valor à Helena Matos.
Aqui, a falácia é ad Hominem — o que é muitíssimo comum na esquerda: insultam-se as pessoas e julga-se que através do insulto passam a ter razão.
E fico-me por aqui. Os argumentos dos comentários negativos são tão pobres que não merecem melhor atenção.
Helena Matos também não resistiu a responder: http://observador.pt/opiniao/um-filho-nao-e-um-rim/
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