sábado, 28 de junho de 2014

O problema de Dugin é mais grave do que eu pensava

 

“René GUÉNON é o emissário do supremo centro para a última época, para o período de Kali Yuga, e os princípios da Tradição por ele formulados (o conjunto dos “conhecimentos não humanos transmitidos de uma geração à outra pela casta dos sacerdotes ou por outras instituições semelhantes) servirão de baluarte de salvação para aqueles que terão que, lutar contra “este Mundo” e seu “Príncipe”, fazer renascer a Tradição na sua dimensão autêntica, não humana e “angelical” e, fechando o ciclo, elaborar os fundamentos sagrados da Idade do Ouro que se aproxima.”

Aleksandr Dugin

Eu não estou a ver a relação entre o muçulmano Guénon, por um lado, e por outro lado o conceito de Kali Yuga de uma certa elite laica hindu; mas talvez seja eu o ignorante. Ou talvez ele esteja a confundir Guénon com Julius Evola que, este sim, defendia o advento da Idade de Ouro que supostamente teria existido antes do homo sapiens ter surgido.

Por outro lado, o anacoreta medieval Joaquim de Fiore era um aprendiz de feiticeiro, quando comparado com Dugin. Joaquim de Fiore apenas profetizou a vinda do Reino do Espírito Santo (depois do Reino do Pai e do do Filho); Aleksandr Dugin vai mais longe: profetiza um apocalipse não-cristão, um fim-do-mundo hindu e pagão baseado em uma fé metastática. Se Obama pudesse, chamaria o Dugin para seu conselheiro espiritual.

«Dentro dos limites da Tradição mencionada, DUGIN reconhece a primazia do não-ser: “qualquer metafísica tradicional de pleno valor reconhece a prioridade do não-ser sobre o ser”. »

Mas isto é Hegel escarrado, meu caro! Sempre afirmei que Dugin é hegeliano, com tudo o que isso implica. Aleksandr Dugin passou da Esquerda Hegeliana (Feuerbach → Karl Marx) para a Direita Hegeliana que nega a Metaxia e que, por isso, concebe os pólos da existência como objectos separados da própria existência.

“O ser apareceu como prova de que o não-ser, que o continha antes de sua aparição, não é a última instância, e de que, além de seus limites está presente o Outro, que não coincide nem com o ser, nem com o não-ser. Do seu ponto de vista o ser “não pode também afirmar sua própria primazia sobre o não-ser, pois contradiria a verdade, já que o ser puro não é outra coisa senão a tradução na realidade, sob sua forma lógica, das possibilidade do não-ser que o precedeu.”

Continua a ser Hegel: o não-ser é imanente. O “Outro” é o Absoluto hegeliano, a ser construído na História por um determinismo total que a rege (Historicismo: “o progresso é uma lei da Natureza”).

O momento anterior ao Big Bang (ou o momento anterior à criação do universo) é concebido por Dugin como “não-ser” que “não é o Outro” (a linguagem de Dugin é esquizofrénica). Ou seja, Aleksandr Dugin perfilha uma forma de monismo. O “Outro” é um princípio fundamental impessoal (Hinduísmo do Bramam, em contraposição ao Hinduísmo do Brama).

Não nos podemos esquecer que a filosofia alemã foi buscar muita coisa ao Budismo (Schopenhauer, Schelling) ao Hinduísmo (Nietzsche) e à Cabala (desde Jakob Böhme a Hegel). Este monismo de Dugin é marcadamente hegeliano.

Para o cristão (e para qualquer pessoa com pensamento lógico saudável), ao contrário do que defende Dugin, o “não-ser hegeliano” é uma forma de ser; o “não-ser hegeliano” é apenas uma forma diferente de ser.

“As normas e as estruturas esotéricas da Tradição transformam-se em conformidade com a situação do ambiente cósmico, e, por conseguinte, aparecem novas religiões e tradições, novas redacções do culto e novas práticas.”

Podemos afirmar que Aleksandr Dugin pretende ser um guru New Age de uma nova religião apocalíptica. O caso é grave. Por muito menos do que isto já vi gente interditada.

1 comentário:

  1. Depois dá nisto:
    http://www.midiasemmascara.org/artigos/globalismo/15281-2014-06-20-22-02-48.html

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