segunda-feira, 2 de junho de 2014

René Guénon e o Sufismo

 

A ordem (ou tariqa) sufi Shadhili-Akbari foi fundada pelo xeque Abd al-Rahman em finais do século XIX, na cidade de Damasco, capital da Síria. A tariqa Shadhili-Akbari resultou de uma síntese entre os ensinamentos sufi do xeque Ibn Arabi (aka xeque al-Akbar), por um lado, e por outro lado, os ensinamentos da sua própria escola de aprendizagem conhecida por Shadhiliya. Vem daí o nome Shadhili-Akbari.

Como é bastante vulgar no Sufismo, esta tariqa sufi preocupava-se muito mais em promover o Sufismo como misticismo universal, do que com a adesão ao Islão.

Em 1904, o xeque sufi Abd al-Rahman deu acolhimento espiritual a um tal John-Gustav Agueli, um pintor sueco e antigo membro da Sociedade Teosófica da senhora Helena Petrovna Blavatsky 1. Agueli recebeu do xeque Abd al-Rahman o título de muqaddam (com poderes para iniciar outros na tariqa), adoptando o nome de Abd al-Hadi al-Maghrabi.

Em 1912, Abd al-Hadi (aka John-Gustav Agueli) conheceu René Guénon e introduziu-o na tariqa sufi Shadhili-Akbari. René Guénon recebeu o nome de xeque Abd al-Wahid Yahya, e, mais tarde, na década de 1930, o próprio René Guénon (aka xeque Abd al-Wahid Yahya) introduziu nessa mesma tariqa o cidadão suíço Frithjof Schuon 2 que, por sua vez, recebeu o título de xeque Isa Nur Ad-Din.

O caso de René Guénon (aka Abd al-Wahid Yahya) é um caso excepcional, porque ele acreditava que — embora existisse um fundo essencial comum a todas as religiões — era necessária uma forma exterior composta por leis e práticas rituais que derivam de uma dimensão interior do homem, e que essa “forma exterior” e a “dimensão interior” estavam ligadas. Por isso René Guénon aderiu totalmente ao Islamismo quando emigrou para o Egipto, cerca de 1930, onde foi iniciado no Ahmadiyya (um ramo mais tradicionalista do Shadhiliyya). Porém, é vulgar a adesão a tariqas sufis sem que isso signifique uma conversão ao Islamismo.

E vem a propósito falar das insinuações, por parte de gente ignorante da esquerda e da direita, feitas recentemente a Olavo de Carvalho no sentido em que ele teria aderido ao Islamismo no seu passado, porque ele fez parte de uma tariqa sufi. Sendo verdade que ele aderiu a uma determinada tariqa sufi, já não é verdade que isso significasse necessariamente a sua adesão ao Islamismo.

Convém que o leitor note o seguinte: o Sufismo pode ser entendido, na sua génese (nos seus primórdios), como um movimento de protesto contra uma fé islâmica que se estava a tornar fortemente legalista, por um lado, e fideísta mas irracional, por outro lado. Ou seja, o Sufismo começou, no mundo islâmico, como um movimento de dissensão em relação ao Islão, e foi, à vez, ferozmente perseguido e protegido pelos califas do Islão e ao longo da História.

Notes
1. A Sociedade Teosófica tem muito mais a ver com o misticismo do Zoroastrismo e do Hinduísmo/Budismo, do que com o Sufismo.
2. Em 1991, Schuon foi acusado de pedofilia.

2 comentários:

  1. Olavo de Carvalho e a sua suposta não conversão ao Islão (a partir dos 7m e 10s):
    http://www.youtube.com/watch?v=VA2fufjEzjE&feature=share&t=7m10s

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