“Voltar a falar de moralidade é algo que só faço com imensa relutância. A palavra e a coisa são tão ambíguas e prestam-se a tantas manipulações, que a probabilidade de sair asneira ao usá-la é grande. Por regra, entre o moralismo hipócrita, tão comum no mundo católico apostólico romano, e o cinismo, eu acho que o cinismo faz menos estragos em democracia.”
Em primeiro lugar, o José Pacheco Pereira entra na falácia da generalização, o que significa que ele não se baseia em um juízo universal para criticar “o moralismo hipócrita do mundo católico apostólico”. Trata-se de um preconceito negativo, e não de um juízo de valor razoável.
“O ponto de vista realista, ou, se se quiser, cínico, pode ser pedagógico em política, quando esta está cheia de falsos moralismos, densa de presunção moral.”
A “densa presunção moral” também é — e sobretudo —, em boa verdade, de uma certa esquerda puritana, que hoje até abrange uma parte do Partido Comunista e uma grande parte do Partido Socialista; e não consta que estes partidos estejam impregnados de um “moralismo hipócrita católico”: pelo contrário!, trata-se de um puritanismo revolucionário e invertido. Mas o José Pacheco Pereira faz de conta que este moralismo puritano invertido da esquerda não existe.
Depois de ter generalizado em relação aos políticos católicos, e depois de se ter esquecido de referir a esquerda muitas vezes anticatólica e/ou maçónica — ou seja, depois de um critério duplo e enviesado do juízo —, o José Pacheco Pereira entra na moralização:
“Mas no tempo em que vivemos não é o moralismo o risco, dada a natureza dos nossos governantes que cresceram numa cultura amoral e de “eficácia”. Por isso é preciso o contrário, chamar a moralidade para a praça pública, porque há coisas que são inaceitáveis numa democracia que desejamos minimamente decente.”
Segundo o José Pacheco Pereira, está implícito que os governantes que cresceram numa cultura amoral e de “eficácia” são os conservadores católicos. Os anticatólicos da esquerda e/ou maçons, por exemplo, segundo ele, não cresceram numa cultura amoral de “eficácia” e constituem um bom exemplo — segundo se pode ler de forma implícita no texto do José Pacheco Pereira — do que deve ser a ética em política.
“Um político geralmente não faz aquilo em que acredita, mas antes aquilo que julga ser eficaz.”
— Nicolás Gómez Dávila
Esta máxima de Nicolás Gómez Dávila não tem ideologias políticas. Mas o José Pacheco Pereira acredita que ela só se aplica aos políticos católicos.
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