sábado, 18 de outubro de 2014

O “papa Francisco” aluga a Capela Sistina para publicidade da Porsche

 

O “papa Francisco” alugou a Capela Sistina para um evento publicitário da marca alemã de automóveis Porsche. Vamos analisar a notícia:

1/ alegadamente, o evento publicitário da Porsche é um concerto que vai render ao papa 200 mil Euros — ou seja, o valor de um apartamento T3 na cidade do Porto.

2/ o jornal em causa, que não é propriamente de Esquerda, tem a preocupação de misturar o aluguer da Capela Sistina à Porsche, por um lado, com as visitas de turistas à dita capela, por outro lado — metendo tudo no mesmo saco.

O raciocínio do jornal é o seguinte: “se um turista qualquer pode visitar a Capela Sistina e tirar fotografias, ¿por que não se poderá alugar a capela para um evento publicitário de uma marca de automóveis ou de uma marca de preservativos? Afinal, o que conta é angariar dinheiro para dar aos pobrezinhos...”

A “lógica” do jornal é a de que os fins justificam os meios; e o “papa Francisco” concorda com esta “lógica”.

Ou seja, é uma “lógica” teleológica. A diferença é que a visita do vulgar turista à capela insere-se em uma lógica diferente: tem em vista o interesse da pessoa que a visita, e é portanto uma “lógica” ontológica.

Além disso, a ideia do papa segundo a qual “os fins justificam os meios” é contraditória nos seus próprios termos, porque a justificação dos meios não se pode remeter para um futuro que é contingente — para além do facto de os meios utilizados, quaisquer que sejam, modificarem sempre os fins pretendidos à partida.

Mas esta contradição não preocupa este papa, porque ele tem a certeza absoluta do futuro: ele pensa dele próprio que é uma hipóstase do próprio Deus e uma manifestação directa da Providência na Terra.

Ademais, não percebo como um papa que critica o capitalismo acaba por alugar um local sagrado da Igreja Católica a uma empresa capitalista, e por um prato de lentilhas. Há, por parte deste papa, uma necessidade de afirmação de um poder quase absoluto encapotado por uma humildade hipócrita. Este papa argentino transportou para dentro da Igreja Católica o peronismo cultural característico do seu país natal.

Haveria outras formas mais ortodoxas de utilizar a Capela Sistina para angariar 200 mil Euros. Mas este papa gosta do escândalo que se aproxima do acto gratuito. A sorte dos católicos é a de que ele já não tem muito tempo de vida; e o que é necessária é uma estratégia de limitação de danos enquanto a (verdadeira) Providência não actua.

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