domingo, 21 de dezembro de 2014

A Grécia, a Noruega e a igualdade de género da Raquel Varela

 

a-julie-da-noruegaOs noruegueses são conhecidos por “árabes do norte”. Têm petróleo.

A Grécia não tem petróleo; e tem menos indústria transformadora do que Portugal (e Portugal tem pouca). A Grécia vive essencialmente do sector terciário (turismo, serviços) sem ser uma sociedade pós-industrial — o que só é possível no absurdo da União Europeia.

Mas mesmo os “árabes do norte” começam agora a ter problemas, porque o preço do petróleo vai por aí abaixo; e não só, outros países pós-industriais do norte, como a Suécia e a Dinamarca começam agora a sentir os efeitos da desindustrialização, e é essa uma das razões plausíveis por que a Noruega, a Suécia e a Dinamarca não aderiram ao Euro — para poderem controlar as suas políticas monetárias e cambiais.

Comparar os pobres gregos com os “árabes do norte” não lembra ao careca.

 

“Vejo a foto da Julie, forte, corajosa e de sorriso delicado, e penso como uma imagem faz cair por terra tanto. Faz cair o chauvinismo norte-sul. Faz mais pela igualdade de género do que mil arrobas a atrapalhar a escrita. É também uma imagem de liberdade, porque carregada de sedução, sem medo. Da Noruega para a Grécia, de uma jovem dirigente sindical livre para velhos estivadores acossados pelo despotismo patronal, de uma mulher para os homens do porto de Pireu. É toda uma outra ideia de Europa.”

A ideia da “Julie Estivadora, forte, corajosa” transmite a noção de uma mulher que carrega dois sacos de batatas em cada ombro — quando a Julie Estivadora está sentada, de forma segura, em cima de uma grua manobrando um volante e umas mudanças. A “igualdade de género”, reduzida a isto, é a reificação (como diria Karl Marx) de uma ilusão.

A “igualdade de género”, segundo a Raquel Varela, é a mulher poder fazer aquilo que pode, sem ter que fazer aquilo que não pode e que cabe aos homens fazer. E aquilo que só a mulher pode fazer — que é parir — está sujeito aos “direitos reprodutivos” subjectivos que faz com que a mulher possa negar aquilo que o homem não pode: a sua própria natureza.

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