quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Quando uma idiossincrasia dá direito a igualdade institucional

 

caricasNa sequência do recente acto do fundamentalista islâmico na cidade de Sidney, na Austrália, morreram duas pessoas que foram consideradas heroínas: Katrina Dawson, mãe de três filhos e solicitadora de profissão, e Tori Johnson, dono de um bar (onde aconteceu o morticínio) e coleccionador de caricas.

A colecção de caricas era uma idiossincrasia comportamental de Tori Johnson, uma característica pessoal sua (dele). No entanto, o facto de ele ter essa idiossincrasia (como poderia ter outra qualquer) não o impediu de assumir um acto heróico que salvou pessoas de uma morte certa. Ou melhor: o facto de Tori Johnson ser coleccionador de caricas não o impediu de ser altruísta (porque não tem nada a ver uma coisa com a outra).

Mas a Associação Australiana de Coleccionadores de Caricas pretende que, devido ao acto heróico de Tori Johnson, a sua colecção de caricas venha a ser exposta, de forma permanente, no Museu de Arte Antiga  da cidade de Sidney.

Defende a Associação Australiana de Coleccionadores de Caricas que, em honra da sua idiossincrasia, e para celebração cultural do coleccionismo de caricas, a colecção privada de Tori Johnson passe a pertencer a uma instituição com as características do Museu de Arte Antiga da cidade, e a nela ser exposta de forma permanente.

Ou seja:

Idiossincrasia comportamental (colecção de caricas) dá, alegadamente, automaticamente direito a igualdade institucional por via de um acto altruísta. Para a Associação Australiana de Coleccionadores de Caricas, não é o acto altruísta de Tori Johnson que conta: antes, é o facto de ele coleccionar caricas que é importante.

Porém, não consta que a Ordem dos Solicitadores da Austrália pretenda adoptar a paternidade dos três filhos órfãos de Katrina Dawson — o que seria absurdo.

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