quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Sinal, e símbolo

 


“Tudo o que existe pode ser visto como "signo" de alguma outra coisa. Desse fato certos intelectuais iluminados concluíram que podia existir uma ciência geral dos signos, ou semiologia, quando ele próprio está gritando que não pode.

O campo de uma ciência se define pelos limites do seu objecto, por aquilo que ela deixa de fora. Se tudo são signos, a semiologia como ciência é impossível.

Pode haver uma ciência geral das quantidades justamente porque a quantidade faz abstracção da substância, da qualidade etc. Mas nada pode ser signo independentemente daquilo que ele seja em si mesmo, substantivamente. Uma ciência geral dos signos teria de ser também, e inseparavelmente, uma ciência de todas as substâncias – coisa que nem a metafísica clássica, nos seus momentos de mais louca ambição, jamais pretendeu ser.”

→ Olavo de Carvalho


O projecto de uma semiologia geral foi fundado pelo linguista Ferdinand de Saussurre: se a língua é um sistema de signos arbitrários — pensou Saussurre —, então é possível estudar todos os sistemas de sinais que regem a vida social (gestos, roupas, regras de boa educação, etc.).

O problema é o de que a semiologia mistura dois conceitos diferentes: o “sinal”, por um lado, e o “símbolo”, por outro  lado. Para a semiologia, o “sinal” e o “símbolo” são “signos”. Ou seja, “sinal” e “símbolo” são colocados no mesmo saco — um enorme erro do Estruturalismo e da modernidade, que até  Durkheim criticou.

Um ser humano não tem qualquer acesso à  esfera mais íntima de outro ser humano, porque não é possível exprimir o individual em conceitos universais — o individual seria imediatamente falsificado porque seria generalizado. Por isso é que o Cristianismo diz que “uma pessoa está mais próxima de Deus do que do outro ser humano” — conceito este que o papa Bergoglio recusa, porque para ele a religião é uma espécie de ideologia política.

A psicologia procura investigar a vida interior do indivíduo, mas os conhecimentos da psicologia só se podem aplicar a um determinado indivíduo por aproximação — porque a área em que o ser humano é completamente “ele próprio” não pode ser descrito com exactidão através de conceitos provenientes da investigação de outros seres humanos. A psicologia e a semiologia procuram sinais no ser humano, quando o ser humano é, ele próprio, um símbolo que orienta a sua vida íntima e espiritual por símbolos, e não por sinais.

Vejamos a seguinte equação matemática:

heisenberg


Trata-se do princípio da incerteza de Heisenberg. Aqueles números que subsumem uma equação, ¿são símbolos, ou sinais?

A conclusão/resultado da equação é o “representado/ simbolizado”. A equação tem um conceito representado/simbolizado, que é o resultado da equação. Por isso, os termos da equação adquiriram uma força simbólica que está para além de simples sinais arbitrários.

Os símbolos são claros, são reconhecidos socialmente, têm um poder imanente de convencimento e participam espiritualmente naquilo que simbolizam. Porém, não devemos confundir símbolos com sinais. Os sinais também são claros e reconhecidos: no entanto, falta-lhes a participação no conteúdo do representado/simbolizado, porque, em regra, os sinais são escolhidos arbitrariamente (por exemplo, os sinais de trânsito). Por isso não é possível comparar, por exemplo, um sinal de trânsito com o símbolo de um Deus pessoal, ou mesmo com o símbolo de uma equação matemática.

O símbolo, para além do significado cultural que o sinal também pode ter, tem um significado espiritual (relativo à experiência humana subjectiva que adquire uma experiência  intersubjectiva e universal) que o sinal não tem. Um sinal só passa a ser um símbolo quando passa a ter um conteúdo com relação a um representado, o que lhe retira a arbitrariedade previamente existente. Um símbolo nunca se muda,  porque isso resultaria também na dissolução do seu significado; em contraponto, um sinal pode ser mudado mantendo-se o seu significado anterior.

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