“Sobre o verbete "A psicose contra a propriedade privada", a coisa não ficou clara para mim, ainda que a apresentação da Ingunn Sigurdsdatter tenha sido confusa, de facto, temos três países ainda não totalmente dentro do sistema bancário ocidental, a China, Rússia e o Irão.”
Em primeiro lugar, temos que saber o que significa “sistema bancário ocidental”. Um sistema, termo utilizado neste sentido, é um conjunto de elementos que exercem influência recíproca entre si — por exemplo, “sistema solar”. Portanto, presume-se que “sistema bancário ocidental” = “conjunto de instituições da alta finança do mundo anglo-saxónico”.
Se existe um “sistema bancário ocidental” conforme noção acima, ele nunca deixou de influenciar por exemplo o nazismo e o comunismo. O esforço económico da preparação da Alemanha nazi para a II Guerra Mundial foi financiado em grande parte pelo “sistema bancário ocidental”, e até 1939 existiam na Alemanha nazi delegações de quase todos os grandes Bancos americanos e ingleses. A economia do período que se seguiu imediatamente ao golpe-de-estado na Rússia de Outubro de 1917 foi financiada pelo “sistema bancário ocidental” (o comunismo foi financiado pela Banca ocidental!). A reconstrução da Europa do pós-guerra foi financiada — através do Plano Marshall — pelo “sistema bancário ocidental”.
Em segundo lugar, não devemos colocar no mesmo saco a China, a Rússia e o Irão — que são os exemplos dados. O Irão já fez parte do “sistema bancário ocidental” quando lá mandava o Xá da Pérsia. O Irão mudou de política porque passou a obedecer à lei islâmica no que diz respeito à taxa de juro de empréstimos bancários (mas isto é outro assunto e não cabe aqui).
A China é hoje quem financia o “sistema bancário ocidental”: basta ver qual é o montante da dívida dos Estados Unidos em relação à China. Portanto, não podemos dizer que a China “ainda não esteja totalmente dentro do sistema bancário ocidental”, porque é a China que o alimenta. Além disso, não há nenhum grande Banco anglo-saxónico que não tenha delegação na China e em Hong-Kong que pertence à China.
Ao contrário do que acontece na China com o Partido Comunista chinês, o Partido Comunista russo não tem poder político suficiente na sociedade russa e é ultra-minoritário, por um lado, e por outro lado existem eleições na Rússia, o que não acontece na China. Mas, paradoxalmente, o “sistema bancário ocidental” simpatiza mais com a ditadura da China do que com a democracia na Rússia.
Porém, hoje (depois da crise na Crimeia) os maiores Bancos americanos têm delegações na Rússia. O que não podemos fazer é confundir problemas políticos com problemas económicos. O “problema” da Rússia é o de que é uma potência militar com alta ciência e alta tecnologia disponível, e isso incomoda os Estados Unidos (é um problema político, e não propriamente um problema económico). Se a Rússia fosse um anão militar como é a Alemanha ou o Brasil, não haveria problemas para os Estados Unidos.
O “sistema bancário ocidental” não está ideologicamente orientado para esta ou aquela ideologia política. O “sistema bancário ocidental” quer apenas e só ganhar dinheiro, independentemente das ideologias políticas e dos regimes políticos. Se uma aliança com a China ou com o Diabo dá dinheiro, então o “sistema bancário ocidental” está presente e é simpático.
Mas quando um país tem capacidade de defesa militar e, por isso, capacidade de defesa da sua soberania política — como é o caso não só da Rússia mas também da França —, então o “sistema bancário ocidental” não confia inteiramente nesse país. Quando a China começar a fabricar tecnologia militar de ponta, haverá uma crise política global.
Voltando à senhora Ingunn Sigurdsdatter (que é o que interessa neste verbete): não é possível financiar uma economia sem Bancos. Quem financiou a economia das cidades-estado do Renascimento italiano, por exemplo, foram Bancos. A economia portuguesa tem sido financiada por Bancos pelo menos desde o Tratado de Methuen em 1703.
Problema diferente é o de saber se os Bancos devem comandar não só a economia mas também a política de um país — e por isso é que Obama é um palhaço.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Neste blogue não são permitidos comentários anónimos.