Pode-se depreender daqui que apenas 8,7% dos abusos sexuais sobre menores são perpetrados por gente com parafilias, ou seja, gente tarada. E os restantes 91,3% dos casos de abusos sexuais de menores são perpetrados por familiares ou conhecidos das crianças vítimas, e portanto, depreende-se que esses 91,3% não é composto por gente tarada.
E depois escreve-se o seguinte:
“Enquanto media, responsáveis políticos e opinadores continuarem a confundir pedofilia (que não é crime) com abuso de menores, a comunidade não tem consciência da realidade atestada por estes números e isso tem efeitos claros na (des)protecção de crianças.”
Vamos tentar seguir o raciocínio da criatura que escreveu aquilo:
O pedófilo não é um criminoso, salvo se cometer um acto de pedofilia. Por outro lado, “abuso sexual de menores” é coisa diferente de “acto pedófilo”, ou seja, podem existir abusadores sexuais de crianças que não são pedófilos.
¿Você percebeu? Eu também nem tanto. Parte-se do princípio da separação da parafilia pedófila, por um lado, do acto sexual com crianças, por outro lado: “pedofilia” é uma coisa (segundo esse raciocínio) e o “abuso sexual de menores” é outra coisa diferente. O Júlio Machado Vaz não diria melhor.
Fazendo uma analogia: um psicopata não é um criminoso, salvo se assassinar alguém: só depois de o psicopata assassinar uma pessoa é que podemos considerá-lo “criminoso”.
Afirmar que “um psicopata é um assassino em potência” é discriminação intolerável, porque não se pode provar “cientificamente” que ele possa vir um dia a assassinar alguém. Só depois de haver uma vítima mortal é que podemos considerar que o psicopata é criminoso. A teoria das probabilidades é uma batata, assim como a lógica.
De modo semelhante, afirmar que “um pedófilo é um predador sexual de crianças em potência” é — segundo aquele raciocínio — não ter consciência da realidade. E quem escreveu aquilo deve ser jurista, a julgar pelo enviesamento do relambório.
Dito isto: sou contra a lei da ministra justiceira do Partido Social Democrata, porque abre um precedente perigoso. Não tarda nada começam a haver listas informáticas dos cidadãos da oposição.
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