Vamos tentar analisar este texto (aqui, em PDF).
Diz-se, no texto, que é preferível a ajuda em géneros (comida) aos pobres e reformados (defendida pelo Partido Social Democrata de Passos Coelho, e aparentemente também pelo CDS/PP de Paulo Portas), do que a ajuda através de prestações pecuniárias (em dinheiro), dadas aos mesmos pobres e reformados, pela SS (Segurança Social) — posição esta defendida pelo Partido Socialista de António Costa.
A posição do Partido Social Democrata é a de que a ajuda em géneros (comida) é mais justa e mais protectora dos pobres e reformados, quando comparada com a posição do Partido Socialista — em um contexto de gestão da pobreza que, alegadamente, decorre de escassez de recursos financeiros do país.
Ambas as posições partem do princípio de que pobreza é sinónimo de miséria, no sentido em que o pobre é aquele que vive apenas para não passar fome; nenhuma das posições reconhece ao cidadão (neste caso pobre e/ou reformado) qualquer potencialidade que possa ser útil à sociedade. Em ambas as posições, o pobre ou/e reformado é tratado como algo que poderia perfeitamente ser dispensável pela sociedade, como uma espécie de “imobilizado” contabilístico cuja despesa poderia ter sido evitada.
Eu, que tento seguir os conceitos da Doutrina Social da Igreja Católica, vejo o problema de outra maneira: as ajudas aos pobres e/ou reformados são positivas, mas estes não devem ser concebidos como um imobilizado contabilístico: é preciso que as ajudas, tanto em géneros como em dinheiro, confiram ao pobre uma dignidade enquanto pessoa.
É preciso que as pessoas que recebem essas ajudas (géneros e dinheiro) possam sentir-se gratificadas com qualquer contributo concreto que possam dar à sociedade, no sentido em que se sintam “úteis” (no bom sentido da palavra) à comunidade.
É preciso pôr os Centros de Emprego e a SS (Segurança Social) a trabalhar (aquela gente trabalha pouco); é preciso maior criatividade por parte da máquina do Estado, no sentido em que, por exemplo, um reformado pobre possa dar, segundo as suas possibilidades específicas e características individuais, um qualquer contributo para a comunidade que justifique não só a ajuda em géneros, mas também a ajuda pecuniária do Estado (as duas coisas juntas).
Quando um pobre ou reformado contribui — de qualquer modo e à sua medida — para a sociedade, passa a merecer não só a ajuda em géneros (do Partido Social Democrata) mas também a ajuda pecuniária (do Partido Socialista). Acaba-se assim com a dicotomia maniqueísta do utilitarismo do Partido Socialista e do Partido Social Democrata.
O que é preciso é colocar o Estado lisboeta a trabalhar no sentido de identificar as possibilidades de contributo individuais de trabalho comunitário dos pobres e reformados.
Nota: por esta dicotomia maniqueísta e utilitarista se pode ver que estes dois partidos políticos não servem, e têm sido a desgraça do nosso país.
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