quarta-feira, 4 de março de 2015

Frei Bento Domingues faz lembrar Nietzsche

 

O Frei Bento Domingues faz aqui uma crítica aos monoteísmos — metendo todos no mesmo saco, como não poderia ser de outro modo; e ¿o que é que ele nos dá em troca da crítica?: nada!

Frei Bento Domingues faz lembrar o “ser humano insensato”, de Nietzsche 1 , que diz: “Cheguei cedo de mais...o meu tempo ainda não é este. Este acontecimento terrível [a morte de Deus] ainda está por vir e caminha — ainda não chegou aos ouvidos dos seres humanos”.

O discurso de Frei Bento Domingues é eficaz quando se dirige ao homem ignaro: é dirigido ao “ignorante que sabe ler” e em uma linguagem viperina. Mas quem tem um mínimo de cultura detecta-lhe imediatamente as incongruências. Portanto, caro leitor, convém que siga o conselho de G. K. Chesterton:

“Sem a educação e o ensino para todos, somos colocados numa situação horrível e de perigo mortífero de termos que levar a sério as pessoas cultas”.

E eu acrescento: pessoas “cultas” como o Frei Bento Domingues.

fbd-2-webO ataque aos monoteísmos — por parte do Frei Bento Domingues — é sempre uma defesa de um monismo qualquer.

Convém que o leitor perceba isto; se não perceber, aconselho que leia sobre o assunto. E há vários tipos de monismos, como por exemplo o monismo da “utopia histórica” ou o da “transcendência imanente” (ou a conjugação entre ambos).

O Frei Bento Domingues pode eventualmente enganá-lo a si, caro leitor, mas não engana toda a gente. O Frei Bento Domingues troca o Cristianismo por uma religião política monista, e depois critica a Igreja Católica. Não é muito diferente de Nietzsche.

Quando se lê Frei Bento Domingues, temos que interpretá-lo, porque ele mascara as palavras por intermédio de emoções. O discurso emotivo esconde a razão.

Quando o Frei Bento Domingues fala em “pluralismo religioso”, quer dizer (mas não o faz explicitamente) “relativismo”, que é um estado de espírito que nega a existência ou a validade da certeza de qualquer fé religiosa. O relativismo — por exemplo, em Montaigne — apoia-se no pretexto da diversidade efectiva das crenças, das opiniões, e até dos costumes, para negar qualquer certeza de fé e mesmo qualquer verdade.

O Frei Bento Domingues serve-se da violência dos radicais islâmicos para colocar o Cristianismo em geral, e a Igreja Católica em particular, no mesmo saco da Jihad islâmica. ¿Será que ele o enganou, a si, caro leitor? A mim não me engana! O Frei Bento Domingues apenas engana os estúpidos como ele.

A diversidade religiosa é um facto, mas nem por isso exige relativismo de valores a que o Frei Bento Domingues chama de “pluralismo”. Só quem não conhece os fundamentos e a estrutura teórica do Islão, por exemplo, pode fazer uma comparação destas; ou então, não sendo ignorante, só uma besta inominável compara o incomparável.

Na sequência da adopção de um monismo qualquer, Frei Bento Domingues recusa a Revelação de Jesus Cristo. Isso está bem patente na proposição: “Os caminhos de Deus não se podem confundir com os de uma só religião”.

“Deus” é aqui entendido, por Frei Bento Domingues, como um princípio impessoal (que não age no mundo, como defendem os monismos: é o “deus ausente”) que se pode aplicar também, por exemplo, às religiões tribais dos montanheses ex-canibais na Papua-Nova Guiné. É neste sentido que eu considero o Frei Bento Domingues uma criatura execrável, pela sua desonestidade intelectual (“cantarei até que a voz me doa!”).

Nós não impomos a Deus as nossas concepções de vida e de salvação (com diz o Frei Bento Domingues): em vez disso, foi Jesus Cristo que nos sugeriu uma auto-imposição de uma determinada concepção de vida e de condições de salvação através da Revelação. Esta inversão dos termos, por parte do Frei Bento Domingues, é diabólica.


Caro leitor, veja bem o exemplo da religião dos siques (Siquismo): é um sincretismo entre o monoteísmo islâmico, por um lado, e o monismo hinduísta, por outro  lado. Ora, acontece que, em religião, ou domina o monoteísmo ou domina o monismo: não há qualquer possibilidade de meio-termo: e o monismo acaba sempre por triunfar, porque é mais fácil de entender pelo ser humano do que o monoteísmo.

O Frei Bento Domingues sabe disto mas esconde-o de si, caro leitor, porque você não sabe!

A perspectiva soteriológica do Siquismo evidencia aquilo que já se deixava entrever na noção sique de “Deus”: o monismo triunfa!: a salvação sique é a dissolução da pessoa (do EU) no próprio Deus, à semelhança dos monismos hinduístas ou budista.

Portanto, quando o Frei Bento Domingues fala em “uma aliança para a abertura ao mistério divino que nenhuma (religião) pode abarcar e para se colocarem ao serviço de todos os seres humanos”, está a tentar fazer uma de duas coisas:

  1. ou a quadratura do círculo (porque o monismo e o monoteísmo são incompatíveis, e portanto não é possível uma qualquer aliança a nível de conceitos fundamentais entre o Cristianismo e o Hinduísmo, por exemplo),
  2. ou pretende a construção de uma religião universal monista — o que seria um retorno civilizacional a uma espécie de “neolítico com computadores”.

Escreve o Frei Bento Domingues, metendo a Igreja Católica no mesmo saco do Islão:

Os três monoteísmos, animados pela mesma pulsão de morte genealógica, partilham uma série de desprezos idênticos: ódio da razão e da inteligência; ódio da liberdade; ódio de todos os livros em nome de um só; ódio da vida; ódio da sexualidade, das mulheres e do prazer; ódio do feminino; ódio dos corpos, dos desejos, das pulsões. Em lugar de tudo isso, judaísmo, cristianismo e Islão defendem: a fé e a crença, a obediência e submissão, o gosto da morte e a paixão do além, o anjo assexuado e a castidade, a virgindade e a fidelidade monogâmica, a esposa e a mãe, a alma e o espírito. Em suma: a vida crucificada e o nada celebrado.”

E escreveu G. K. Chesterton:

“O que aconteceu à moderna imaginação humana, no seu todo, foi que o mundo inteiro foi pintado com paixões perigosas e efémeras; com paixões naturais que se tornaram desnaturadas.

Assim, o resultado de tratar o sexo somente como uma coisa inocente e natural, foi o de que todas as outras coisas naturais e inocentes ficaram saturadas e encharcadas com sexo — porque o sexo não pode ser concebido em termos de igualdade com emoções elementares ou com experiências como comer e dormir.

A partir do momento em que o sexo deixa de ser um servo, passa a ser um tirano.

Existe, no lugar e na função do sexo na Natureza Humana, algo de desproporcional e perigoso, e por um motivo qualquer; e o sexo realmente necessita de dedicação e de purificação especiais.

A conversa moderna sobre “o sexo ser livre como qualquer outra coisa”, acerca do “corpo que é belo como qualquer árvore ou flor” — ou é uma descrição do Jardim do Éden, ou é um discurso de péssima psicologia da qual o mundo já se tinha cansado há dois mil anos.”


Nota
1. “Die Fröliche Wissenschaft”

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