segunda-feira, 2 de março de 2015

O indivíduo socialmente atomizado é o novo elemento revolucionário

 

Na década de 1970, algumas autarquias controladas pela Esquerda exibiam gratuitamente filmes soviéticos às populações. Depois da queda do muro, os filmes soviéticos grátis acabaram. Mas surpreendeu-me a notícia de que a Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães, lá no cu de judas, exibiu recente- e gratuitamente o filme "As 50 Sombras de Grey" ao povo da autarquia — como se se tratasse de um filme pedagógico indispensável ao progresso cultural do povo…!

Depois da queda do muro, a renovada religião política de Esquerda — em conluio com uma certa direita libertária — transformou a mulher em uma espécie de hierodula, ou, em termos que toda a gente entenda, em uma prostituta sacrificial. E tudo isto em um momento em que a patética ministra da igualdade, Teresa Morais (¿será que ela foi ver o filme "As 50 Sombras de Grey"?), lança uma campanha nos me®dia contra a violência entre namorados. Há aqui qualquer coisa de profundamente contraditório, mas essa contradição é propositada; não se trata apenas de mera estupidez, mas também de uma ideologia que sustenta uma nova religião política.

A nova religião política que a Esquerda maçónica indrominou depois da queda do muro — e na sequência  das ideias marxistas culturais de Marcuse ou de Wilhem Reich — tem um dos fulcros na perversão do acto sexual. Isto não tem nada de novo: já os primeiros profetas de Yahweh, ainda antes do exílio, tinham denunciado os sacrifícios sexuais das virgens hierodulas ao deus Baal (a erotização da dominação e da subordinação, como acontece hoje n' "As 50 Sombras de Grey" ), e foi por isso que o Judaísmo caiu no extremo oposto de um rigor moral radical no que respeita à  sexualidade. 

A Esquerda (e os libertários de direita, que segundo Lenine são os “idiotas úteis”) dizem que a perversão sexual deve ser vista no âmbito da “escolha individual”. Da mesma forma, dizem que o aborto, por exemplo, também deve ser visto em um âmbito de “escolha individual” — como se a “escolha individual”  pudesse ser inserida em um contexto de vácuo ético, político, social e cultural.

O conceito de “autonomia pessoal” passou a ser sinónimo absoluto de “liberdade negativa”1. O indivíduo socialmente atomizado é o novo elemento revolucionário. E é este novo conceito enviesado de “autonomia pessoal” que irá inexoravelmente colocar em causa – na nossa sociedade — a liberdade propriamente dita.


Nota
1. A liberdade negativa é aquela que consiste em não ser impedido de agir — a de não ser impedido por outrem naquilo que desejamos fazer, ou a liberdade de se exprimir sem censura.

Em contraponto, a liberdade positiva é a liberdade do cidadão-legislador, segundo o princípio de autonomia de Kant, que consiste em tomar parte nas decisões políticas e públicas, e de co-exercer a autoridade em geral

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