sexta-feira, 27 de março de 2015

O “suicídio colectivo” dos pilotos comerciais e o cientismo

 

A Maria João Marques escreve aqui sobre os “perigos psicológicos”, sobre as “doenças psicológicas” que, entre outros casos, na última década têm levado ao “suicídio colectivo” de pilotos de aviões comerciais. Repito: na última década — porque tal nunca tinha acontecido desde o Dakota e o Super Constellation da década de 1950 até aos super jumbos de 2000.

super-constellation-tap-webMas a Maria João Marques não se questiona sobre a razão por que não existiram “suicídios colectivos” de pilotos durante 50 anos, e de repente e nos últimos 15 anos, aconteceram “uma data deles”. Prefere arrumar o problema nas gavetas da psicologia e da psiquiatria: “a ciência resolve todos os problemas da humanidade”.

Não é preciso ser psicólogo ou psiquiatra, ou licenciado em outra merda qualquer, para perceber que estamos perante um fenómeno cultural inédito. É uma coisa nova.

E devemos perguntar: se, durante 50 anos de aviação comercial, não foi precisa a psicologia e a psiquiatria para evitar “suicídios colectivos” de pilotos, então ¿por que razão presume a Maria João Marques que as ciências humanas e/ou sociais irão evitá-los no futuro?  

Se durante 50 anos nunca nenhum piloto sentiu a necessidade de se suicidar e levar consigo, para a morte, os passageiros, ¿por que razão este fenómeno passou a acontecer nos últimos 15 anos?

Esta é a pergunta que deveria ser respondida, e não tentando evitar a resposta incómoda — como faz a Maria João Marques — invocando a psicologia e a psiquiatria. Se alguma ciência humana pode ser chamada a estudar o fenómeno, é a sociologia, e não a psiquiatria ou a psicologia.

É certo que, até certo ponto, a psiquiatria pode detectar um psicopata, mas nem sempre. Estamos aqui no campo dos valores, no campo da ética que enforma uma determinada cultura antropológica, e por isso não há ciências humanas que valham para evitar mais “suicídios colectivos” de pilotos no futuro — a não ser que a liberdade do cidadão em geral vá sendo restringida em crescendo até ao advento de uma sociedade orwelliana: é assim que os liberais cientificistas se tornam totalitários (como eu compreendo o Carlos Abreu Amorim, que renegou o liberalismo!).

Por último: a Maria João Marques mistura o stress pós-traumático decorrente de uma situação de guerra de maior ou menor intensidade (soldados e polícias) com a situação do piloto comercial. Por aqui se vê a dificuldade que eu tive em analisar ideologicamente o verbete dela.

(imagem daqui).

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