sábado, 11 de abril de 2015

A civilização colide com o impulso

 

“Mãe, acabas de ferir os meus sentimentos!” ― frase pronunciada por um rapaz de 10 anos quando a mãe lhe pediu o favor de apagar o televisor e ir para a cama. Também uma psicóloga, recentemente, dava um conselho aos jovens num artigo de um jornal: «Se notas que sentes algo especial, não tenhas medo, liberta-te de tabus, corre para os seus braços e entrega-te totalmente. Só assim a tua vida será sincera e sem hipocrisias».

Reparem no pormenor: «sentir algo especial» é suficiente para justificar qualquer comportamento. E a sinceridade já não tem nenhuma relação com a verdade. Ser sincero, segundo a psicóloga, é sentir algo especial e não reprimir esse sentimento.

Educar os sentimentos

A civilização é sobretudo racionalidade, e esta é penosa.

Para o ser humano que fica mais civilizado apenas por um proceder obrigatório ou compulsivo, mais do que pelo sentir a racionalidade 1  da civilização, para ele a racionalidade é uma pena, e a virtude é um fardo quase insuportável ou até mesmo uma escravidão. Isto leva a reacções no pensar, no sentir e no agir, como podemos ver no conselho politicamente correcto da psicóloga supracitada.

O homem civilizado distingue-se do selvagem pela capacidade de previsão, ou em aquilo a que os gregos antigos chamavam de Fronèsis (prudência): o civilizado aceita penas actuais por causa de benefícios futuros, ainda que esses benefícios possam estar distantes no tempo. Por exemplo, nenhum animal ou nenhum selvagem trabalharia na Primavera para ter alimento no Inverno.

A Fronèsis começa apenas quando o ser humano faz alguma coisa a que o impulso (ou instinto) não o obriga a fazer, porque a razão lhe diz que disso tirará proveito em data futura. A civilização colide com o impulso — não só através da Fronèsis que é colisão auto-inflingida, mas também através da lei, dos costumes e da religião.

Em geral, a Direita conservadora é civilizada, e a Esquerda é selvagem. A Esquerda representa a decadência da civilização, a selvajaria, porque coloca sistematicamente os impulsos e instintos acima da prudência.

Nota
1. Não confundir com “racionalismo”.

2 comentários:

  1. [i]"Também uma psicóloga, recentemente, dava um conselho aos jovens num artigo de um jornal: «Se notas que sentes algo especial, não tenhas medo, liberta-te de tabus, corre para os seus braços e entrega-te totalmente. Só assim a tua vida será sincera e sem hipocrisias»."[/i]

    De uns tempos para cá venho pensando que grande parte da ciência que hoje passa por "psicologia" não pode existir senão em sociedades moralmente doentes - como a nossa.

    A psicóloga citada está apenas contribuindo para CRIAR A NECESSIDADE da ciência que ela pratica: se as pessoas fossem educadas de acordo com os ensinamentos morais da Igreja (como geralmente o eram há tempos atrás), elas não se entregariam às tentações do mundo, da carne e do diabo - ao contrario, lutariam contra elas - e, portanto, NÃO PRECISARIAM DE PSICOLOGIA, na forma pela qual esta passa hoje. Não é outro o motivo por que esta ciência floresceu a partir do século XIX, quando o Homem iluminista já estava bem determinado a abandonar a Fé, e desenvolveu-se capitaneada por homens que da Igreja estavam bem longe.

    "A psicologia é, propriamente, o estudo do comportamento burguês" - Nicolás Gòmez Dávila.

    Quem tem Deus no coração olha para o alto, roga a Nossa Senhora, inspira-se nos santos, reza e luta bravamente contra os males da alma, até estes se irem embora.

    Já ateus não têm norte nem amparo. Diante de uma tentação, não sabem como reagir. Entregam-se a elas e acabam mais ensandecidos do que antes. Quando o número de tais doentes é grande o bastamte, torna-se necessário fundar uma ciência para estudar a loucura. Eis o que chamam de "psicologia". Como, contudo, as bases dessa ciência são materialistas, ela só contribui para aumentar ainda mais a loucura e, por conseguinte, a necessidade de mais "psicologia".

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