sexta-feira, 31 de julho de 2015

Devo estar doente: concordo com o Ludwig Krippahl

 

Provavelmente devo estar com problemas cognitivos (talvez seja da silly season), porque desta vez estou parcialmente de acordo com o Ludwig Krippahl. Sublinho: parcialmente. Mas, em primeiro lugar, vamos àquilo com que não estou de acordo com ele.

1/ o aborto não é um “acto médico”

Vamos ao dicionário saber a definição nominal de “medicina”: arte e ciência de curar ou atenuar doenças.

Se a gravidez é uma doença e uma condição passível de cura, o Ludwig Krippahl tem razão: o aborto é um acto médico. Portanto, trata-se aqui de uma questão de opinião: ele pensa que a gravidez é uma doença, e eu não. Portanto, eu considero que o aborto não é um acto médico.

A partir do momento em que o aborto é considerado um “acto médico”, todo o raciocínio do Ludwig Krippahl está inquinado.

2/ uma “taxa moderadora” não serve para evitar a utilização desnecessária dos serviços públicos

ana sa lopes frankesteinA falácia da governança começa com o adjectivo “moderadora”. A verdade é que se trata de uma taxa de acesso, e não de uma “taxa moderadora”. Assim como o politicamente correcto substitui o termo “aborto” pelo termo “IVG” (Interrupção Voluntária da Gravidez), assim o politicamente correcto substitui o termo “taxa de acesso” pelo termo “taxa moderadora”.

Por exemplo, se eu for uma pessoa rica, posso dar-me ao luxo de pagar todos os dias uma “taxa moderadora” para ir “conversar” com os médicos no hospital. Para um rico, a taxa não “modera” nada: trata-se de uma taxa de acesso. E ponto final. Deixemo-nos de confusões linguísticas induzidas.

Ademais, as taxas são objectivas — e não subjectivas. Não passa pela cabeça de ninguém criar uma “taxa moderadora” para impedir que as pessoas que gostam de “conversar” com os médicos acedam às consultas. Em primeiro lugar, teríamos que definir “conversar com os médicos”. ¿O que significa “conversar com os médicos”? Será possível uma consulta sem uma “conversa” com o médico? Os recursos financeiros são escassos, e portanto existe uma taxa de acesso para financiar o SNS, e não uma “taxa moderadora”. É esta a verdade, nua e crua. Deixemo-nos de merdas!

3/ um aborto não se compara com uma transfusão de sangue

Só um burro, como é o Ludwig Krippahl, ou uma burra, como a Ana Sá Lopes (na imagem), compara uma transfusão  de sangue com um aborto. É a mesma coisa que comparar alhos com bugalhos. Penso que nem vale a pena explicar por que razão a comparação é absurda.

¿Onde é que eu estou de acordo com o Ludwig Krippahl?

Há que atacar o problema social e cultural que está na causa do aborto, em vez de transformar o aborto em um acto contraceptivo.

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