domingo, 2 de agosto de 2015

A homeopatia não faz parte das Ciências da Natureza. Ponto final.

 

Um leitor deixou-me ficar a seguinte mensagem:

“Junto, em anexo, um artigo que vem na Revista nº161 da Ordem dos Médicos de Julho (…) Pelo que pude deduzir, parece que a Ordem dos Médicos só poderá aceitar o carácter científico da homeopatia baseando-se no efeito placebo e num conceito de interacção mente-matéria de intenção terapêutica.

Ora, este conceito parece-me ser um ressuscitar do epifenomenalismo do séc. XIX, com 'ar fresco' do séc. XXI, misturando tudo com a douta sapiência de António Damásio e o Erro de Descartes, até que a massa fique com a consistência necessária”.


1/ A homeopatia não faz parte das Ciências da Natureza porque não se verificou — pelo menos até agora — uma regularidade estatística universal do seu método. Isto não significa que o princípio da indução, que caracteriza a ciência, seja indubitavelmente válido 1 : significa apenas que não existe (ainda, pelo menos) um qualquer nexo causal, universal e abstracto, dos fenómenos homeopáticos que lhe possa conferir a classificação de “ciência”.

A homeopatia não é refutável. Portanto, e pelo menos por agora, não pode pertencer às Ciências da Natureza. Dizer que “a homeopatia é ciência” (no sentido das Ciências da Natureza), é falso.

2/ É falsa a ideia segundo a qual “um cientista tem que ser materialista” e, por isso, tem que assumir o epifenomenalismo. O epifenomenalismo é uma extrapolação metafísica (filosófica) a partir de factos, e por isso não é ciência. A ciência baseia-se na regularidade dos factos indutivamente abstraídos em leis gerais; mas a interpretação metafísica dos factos é teoria, e por isso faz parte da filosofia (e não da ciência propriamente dita).

3/ Os epicuristas da antiga Grécia, por exemplo, eram epifenomenalistas; Demócrito também tinha uma certa tendência para o epifenomenalismo. O epifenomenalismo não é uma teoria do século XIX.


Nota
1. porque o princípio da regularidade dos fenómenos naturais é em si mesmo um princípio geral (axiomático) e, por isso, não pode ser estabelecido indutivamente

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