sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O Paulo que já não é Querido

 

O Paulo Querido é um “jornaleiro” radical que apoiou José Sócrates nas últimas eleições que este ganhou; chegou mesmo a organizar um encontro de blogueiros em que esteve presente o próprio José Sócrates.
Quando Passos Coelho ganhou as eleições, o Paulo continuou a ser Querido: organizou umas manifs de agit-prop junto ao palácio de S. Bento e em Belém. Quando José Sócrates foi preso, o Paulo deixou de ser Querido: entrou na clandestinidade me®diática e deixou de ser notícia. De vez em quando, aparece qualquer coisa escrita por ele em locais espúrios, como é o caso deste:

“Sim: há casos de sucesso, há casos excelentes. Mas o movimento das startups não difere de outros movimentos anteriores na produção de um mar de insucessos. Pelo contrário: até ver, é das maiores produtoras de insucessos.”

A CULTURA DA LOTARIA: DESVENDANDO O LADO NEGRO DAS START-UPS

Antes de mais, para quem não sabe o que é uma startup, ler isto. Uma startup é, em português, uma micro-empresa.

O que o Querido pretende dizer é que a criação de micro-empresas é uma lotaria; e que, por ser uma lotaria, a criação de micro-empresas é uma coisa má. Os casos de sucesso são excepções à regra; e a regra é má exactamente porque apenas as excepções são boas — porque se parte do princípio de que os casos de sucesso deveriam ser a regra e não a excepção.

A noção de “igualdade” é de tal forma levada a um extremo conceptual que se concebe como regra geral que as micro-empresas deveriam ter sucesso, e que a as micro-empresas sem sucesso deveriam ser uma minoria (deveriam ser a excepção à regra). É assim que o Paulo que já não é Querido raciocina. Se seguirmos, de forma consistente, os preceitos de “igualdade” e de “não discriminação” da Esquerda radical, torna-se impossível viver uma vida decente.

Existe desde logo uma contradição fundamental (de base) no raciocínio do Paulo que já não é Querido: por um lado, a mundividência é darwinista (relativismo ético cientificista) como antítese da mundividência religiosa; e, por outro lado, combate-se o social-darwinismo que, alegadamente, está subjacente à criação das micro-empresas. Ou seja, é-se darwinista sem assumir as consequências de se ser darwinista. Este é um caso muito vulgar na actual política.

Por exemplo, Richard Dawkins que é ateu e darwinista convicto e confesso, e que foi um dos fundadores da sociobiologia, diz-se de Esquerda. Ora, a sociobiologia (por exemplo, através do conceito do “gene egoísta”) é a principal arma ideológica dos defensores do racismo. Perguntas: ¿como é possível criticar o racismo e simultaneamente ser darwinista? Como é possível ser darwinista e, ao mesmo tempo, não ser darwinista?


O problema que eu vejo nas micro-empresas (startups) não é o do sucesso ou do insucesso — porque ambos fazem parte da vida e temos todos que aprender a viver com eles. O problema é que as boas ideias, aquelas que têm sucesso, beneficiam muito menos quem as teve e quem as criou, do que os “tubarões” plutocratas que se aproveitam delas.

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