quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A situação política em Portugal é preocupante

 

Eu critiquei aqui o governo de Passos Coelho por causa do seu determinismo ideológico que teve como consequência um certa arrogância em relação a qualquer divergência ideológica e, sobretudo, uma certeza do futuro que caracterizou a atitude de Passos Coelho. A certeza do futuro é uma característica da mente revolucionária.

Hoje temos o determinismo ideológico e a certeza do futuro de António Costa.

Alguém escreveu que “na batalha de Estalinegrado, encontraram-se os hegelianos de direita e de esquerda”; a minha crítica continuada a Passos Coelho foi no sentido de tentar evitar que, de certa forma, se encontrassem, em Lisboa de 2015, os hegelianos de esquerda e de 'direita'. É o que está a acontecer em Portugal.

Um hegeliano é sempre um revolucionário. Por isso, ou pressupomos que exista uma 'direita revolucionária', e por isso o sistema político que temos está enclausurado em um clico dialéctico infernal; ou partimos do princípio de que a actual 'direita' faz parte do conjunto de 'frentes populares' de que nos fala o Jaime Nogueira Pinto.


Segundo o teorema de Gödel, é impossível demonstrar a não-contradição de um sistema (que pode ser um sistema político) pelos seus próprios meios, ou mediante meios mais fracos.

Por exemplo, um computador suficientemente complexo para simular o trabalho cerebral, e submetido a um rigoroso determinismo no que respeita ao seu mecanismo e às permutas com o exterior, não permite calcular, em um tempo t, o que ele (computador) será num tempo t+1 — só o consegue na medida em que a sua determinação, por si só incompleta, estiver submetida à determinação de um outro computador de ordem superior, mas que, nesse caso, também não está de modo nenhum inteiramente determinado por si mesmo; e assim consecutivamente, ad infinitum.

Ou seja, Gödel demonstrou matematicamente que Hegel está errado (quando aplica o determinismo ao ser humano). Qualquer sistema político não pode sobreviver muito tempo assentando em bases ideológicas prometaicas (em um sistema fechado à transcendência) — sejam estas marxistas, hayekianas, etc..

O actual sistema político em Portugal está ameaçado porque se tornou impossível demonstrar a sua não-contradição pelos seus próprios meios.

A alternativa seria abrir o sistema à não-determinação — ou seja, a negação da aplicação, em relação ao ser humano e à sociedade, do primeiro princípio da termodinâmica1. A grande vitória da esquerda foi a de ter transformado a 'direita' em um compósito de uma frente popular.

Nota
1. Princípio da equivalência (ou conservação de energia): a energia não pode ser nem criada nem destruída, mas apenas transformada. Num sistema fechado, a sua energia total permanece constante e representa o “equivalente mecânico” do calor.

1 comentário:

  1. O que deu e dá nesta bagunça toda é a ausência de qualquer força ou alternativa nacionalista credível em Portugal. Em França ainda existe a Frente Nacional para travar a esquerda, em Portugal, salvo o minúsculo e irrelevante PNR, não existe absolutamente nada.

    Isto não vai acabar bem, porque não pode acabar bem.

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