segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Anselmo Borges está errado acerca do dualismo aplicado ao ser humano (2)

 

Em sequência do verbete anterior, Anselmo Borges, depois de ter suspenso o dualismo metafísico, defende o dualismo não superado de Hegel e dos modernos.

No pensamento de Hegel, “espírito” e “natureza” são duas realidades: uma frente à outra no mesmo plano. Por isso Hegel recorreu a um terceiro termo, o Logos: a necessidade de vencer o dualismo levou-o a tentar superá-lo com a forma triádica. Mas, uma vez que “natureza” e “espírito” não são contrários no seu pensamento (como acontece em Anselmo Borges), e não são duas abstracções mas antes são duas realidades concretas (idem) — a forma triádica era inaplicável. O Logos passou a ser, na sua tríade, o primeiro (a tese).

Para Hegel, o Logos, sendo um sujeito (e não uma “substância” como tinha defendido Schelling), é um sujeito que não se pode pensar como sujeito, ou seja, o Logos é um sujeito que não se pode pensar de modo algum.

O Logos é, como diz Hegel: “Deus na sua eterna essência primeira da criação da Natureza e do espírito finito”; e nós podemos muito bem (segundo Hegel) pensar Deus na Natureza e no espírito finito, Deus in nobis et nos, mas (segundo Hegel) não um Deus fora ou aquém da Natureza e do homem.

O expediente triádico de Hegel (tese, antítese, síntese), por um lado, e o termo Logos (segundo Hegel), por outro lado, a que Hegel recorre, mostram que Hegel está sempre preso no dualismo, mas que se debate em vão contra ele, sem poder sair dele.

É esta a principal contradição de Anselmo Borges: é um moderno que se debate contra o dualismo, pensando poder sair dele. Ademais, Anselmo Borges pretende fazer a síntese entre a esquerda e a direita hegelianas (a imanência e o não-transcendente, por um lado, e o Deus pessoal, por outro lado), o que é uma outra contradição em termos.


Anselmo Borges fala no ser humano como um “ser em tensão”. Para fundamentar a sua visão de “ser em tensão”, Anselmo Borges recorre à neurobiologia e à psicologia — como é habitual nos modernos —, como se estas ciências tivessem já ditado um veredicto final acerca do ser humano. Lateja naquela mente o positivismo à moda de Comte (um racionalismo radical e dogmático), mas não um positivismo à moda de Stuart Mill (um empirismo radical).

Mas há uma tensão no ser humano de que o Anselmo Borges não fala — porque falar dela é uma heresia moderna: a Metaxia. A Metaxia é a condição dialéctica da existência do ser humano, segundo Platão.

Mas segundo Eric Voegelin, os pólos dialécticos da existência são inseparáveis e intrínsecos à própria existência, e por isso não podem ser concebidos como objectos (mas isso não significa que esses pólos não sejam distintos entre si). Segundo Eric Voegelin, o encontro da consciência humana com a transcendência não ocorre na história dos acontecimentos mundanos (ao contrário do que defende Anselmo Borges), mas antes ocorre no processo interno da experiência da consciência humana. A este encontro entre a experiência da consciência humana com a realidade transcendente, Eric Voegelin chamou de Metaxia. A Metaxia é o lugar onde o ser humano participa, com o divino, na realidade da consciência.

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