sábado, 14 de novembro de 2015

Os dados da experiência vão além da “utilidade prática”

 

O Domingos Faria conclui aqui que é possível que se obtenha conhecimento a partir de falsidades; e deu como exemplo as horas de um relógio, que é um instrumento de medição (neste caso, medição do tempo).

1/ É claro que podemos obter conhecimento a partir de “falsidades”, mas apenas se entendermos “falsidade” como sinónimo de “verdade parcial”. Uma verdade parcial não é a verdade absoluta mas também não é erro absoluto. Por exemplo, a dinâmica de Newton era em grande parte falsa, o que não significa que fosse totalmente falsa. Ou seja, a ciência adquiriu conhecimento a partir da teoria (parcialmente) falsa de Newton.

2/ Uma teoria que consideremos falsa pode ser verdadeira; e uma outra que consideremos verdadeira pode ser falsa.

3/ Mas, do conhecimento a partir de uma falsidade a que se refere o Domingos Faria no caso do relógio, resulta uma “verdade” que só é aplicável no sentido prático, ou seja, no sentido de uma utilidade prática (aplicável à nossa realidade macroscópica). Todos os instrumentos de medição — incluindo o relógio do Domingos Faria — são falíveis (dão-nos sempre apenas uma aproximação à verdade) fora da utilidade prática que caracteriza a chamada “física clássica”.

4/ Nada, na realidade do infinitamente pequeno, obedece às leis ordinárias da física clássica — incluindo as leis que medem o tempo e o relógio do Domingos Faria. A medição define literalmente o sistema medido.

Não podemos afirmar que uma partícula elementar já tinha uma determinada característica, antes e/ou independentemente da observação ou medição da dita através de um instrumento. Se utilizarmos um instrumento para medir um sistema microscópico, por exemplo, uma medição da sua energia, produz-se uma redução brutal do seu vector de estado: apenas um dos termos da soma do "vector de estado" subsiste: aquele que corresponde ao valor da energia que foi efectivamente medida.

5/ E se o relógio do Domingos Faria fosse colocado na estratosfera, “andaria” mais depressa, e provavelmente induziria em erro o seu proprietário: poderia ele julgar que já estaria atrasado para a conferência das 17 horas quando, na “verdade horária” da crusta terrestre, ainda eram 16:59 horas. Os próprios relógios andam mais depressa ou mais lentamente dependendo do local terrestre em que se encontrem.

6/ A física mais actual demonstrou que o ser humano está confrontado com uma eterna (“eterno” no sentido do “tempo”, que é finito) “aproximação à verdade”, porque os seus instrumentos de medição da realidade são falíveis e têm apenas uma utilidade prática.

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