terça-feira, 1 de março de 2016

A necessidade dos mecanismos de democracia participativa

 

Os liberais portugueses vão-se dando conta da importância da “guerra cultural” traduzida, por exemplo, no caso da tentativa de proibição da publicação do livro do Henrique Raposo. Até há pouco tempo, os liberais consideravam as chamadas “questões fracturantes” como simples matéria de opinião; cheguei mesmo a ler no Blasfémias, escrito pelo João Miranda e a propósito do "casamento" gay, que a instituição do casamento deveria ser abolida porque se tratava de um assunto que diz respeito estritamente ao indivíduo e que o Estado não tinha nada a ver com isso.

Não é demais recordar Edgar Morin:

« (...) a lógica do liberalismo político leva-o a tolerar ideias ou movimentos que têm como finalidade destruí-lo. A partir daí, perante a ameaça, o liberalismo está condenado, quer a tornar-se autoritário, isto é, a negar-se ― provisória ou duradouramente ― a si mesmo, quer a ceder o lugar à força totalitária colocada no poder por meio de eleições legais (Alemanha, 1933) »

voteAntes de “arrotarem postas de pescada”, os liberais deveriam ter uma boa noção das ideias de Gramsci acerca da importância da cultura antropológica e das “questões fracturantes”. E deveriam defender a todo o custo os mecanismos de democracia participativa (referendos) em relação a essas questões.

Quando eu vejo os liberais a confraternizar canina- e afavelmente com radicais de esquerda em programas de televisão, evitando que todo o custo não ofender o politicamente correcto — como se a confrontação de ideias fosse um pecado original —, não admira que se comece a proibir a publicação de livros perfeitamente inócuos e apenas porque o autor é A ou B. Os radicais preocupam-se imenso com as figuras públicas, ou seja, as que têm acesso aos me®dia; vêem a política como uma matéria de elites, em que o povo não é tido nem achado.

Por outro lado, os Cunservadores em geral também são contra os referendos; não se dão conta de que estão a promover o radicalismo de Esquerda. Ou então, sabem que o fazem e colaboram na política de terra queimada, tentando extremar posições na esperança de uma conflagração política final.

O povo tem que ser responsabilizado pelas decisões políticas em áreas como a economia ou a cultura (costumes), para o mal ou para o bem. Há que correr o risco e dar a voz ao povo através de referendos, mesmo que a afluência às urnas seja pequena.

Há que combater a ideia politicamente correcta segundo a qual “os direitos individuais não são referendáveis” — ideia essa que é muito conveniente para a agenda totalitária dos radicais. Temos que ser radicais contra os radicais, defendendo a democracia participativa. E afirmar que a ideia de que “o povo é burro e ignorante e que, por isso, não pode ser ouvido em matérias de governança”, é característica de um novo tipo de totalitarismo que nos está paulatinamente a ser imposto.

Temos que criar, na sociedade portuguesa, um senso-comum (que não existe, porque a sociedade está, também ela, fracturada) que passe pela valorização dos mecanismos da democracia participativa.

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