Este verbete do Aires de Almeida faz a crítica ao anti-utilitarismo de John Rawls.
A melhor crítica que podemos fazer ao utilitarismo é a de que é condicionado por duas proposições antitéticas ou contraditórias entre si:
- uma proposição positiva, que diz que os homens devem ser considerados como indivíduos egoístas, calculadores e racionais, e que tudo deve ser pensado e elaborado a partir do seu ponto de vista;
- e uma proposição normativa, que afirma que os interesses dos indivíduos, a começar pelo meu próprio, devem ser subordinados e mesmo sacrificados à felicidade geral ou do "maior número".
Todo o utilitarismo mistura, em proporções infinitamente variáveis e dependente apenas da discricionariedade política das elites da sociedade, uma axiomática do interesse e uma axiomática sacrificialista, que é simultaneamente um encantamento pelo egoísmo (individualismo) e uma apologia do altruísmo, e tentativa de reconciliar um ponto de vista ferozmente individualista e uma vertente globalizada e holista.
Ou seja, a melhor crítica ao utilitarismo é reduzi-lo ao absurdo, por um lado, e por outro lado sublinhar a importância do sacrifício voluntário, consciente e racional do interesse próprio que só a religião transcendental (até certo ponto) pode conseguir.
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