sábado, 21 de maio de 2016

O retorno de Prometeu

 

O Anselmo Borges escreve o seguinte:

“A actual sociedade europeia de que fazemos parte tem, na expressão do filósofo E. Husserl, uma nova "forma de vida", isto é, um horizonte novo de vivência, sentido e auto-compreensão, a partir de três princípios fundamentais.

Trata-se de uma sociedade à qual foi possibilitado imenso bem-estar, derivando daí novas possibilidades de auto-realização e também um feroz individualismo, que apenas reivindica direitos ignorando deveres.

Por outro lado, as novas tecnologias têm um impacto decisivo nas sociedades, e não só no plano socioeconómico: mudam as mentalidades”.

goyaFernando Pessoa escreveu que aquilo a que o Anselmo Borges chama de “novo”, é “a velhice do eterno novo”.

¿Uma onda do mar é diferente de uma outra onda que se lhe segue? Claro que sim, mas a natureza das duas ondas é idêntica; uma pode ser mais alta em alguns centímetros, mas as duas ondas obedecem aos mesmos princípios da Natureza.

Assistimos hoje a fenómenos sociais “novos” nas suas formas (assim como a forma da onda mais recente é sempre uma “novidade”), mas os conteúdos sociais são, pelo menos, semelhantes em todos os tempos. Nós é que nos convencemos — porque vivemos hoje, e não no tempo do pão e circo da antiga Roma, por exemplo — que o que se passa hoje é uma espécie de novidade transumanista que nos separa radicalmente da eterna condição humana.

As “questões fracturantes”, a que se refere o Anselmo Borges, fazem parte do endémico retorno mítico de Prometeu que pretende vingar-se das leis de Zeus. E quando nós pensamos que a última onda é ontologicamente diferente da onda anterior (o tal “Mundo Novo”), embarcamos também na falácia de Prometeu.

Como escreveu Clive Staples Lewis: “No universo não há campos neutros: todos os centímetros quadrados, todos os segundos, são reclamados por Deus e disputados por Satanás”. O mito de Prometeu foi uma bela forma que os antigos gregos encontraram para traduzir em símbolos este conceito de Lewis.

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