segunda-feira, 6 de junho de 2016

O libertário de esquerda

 

O Ludwig Krippahl parece ser um libertário de Esquerda; por isso só pode ser considerado um “hipster” pela própria Esquerda, incluindo o Bloco de Esquerda — porque o libertarismo do Bloco de Esquerda é apenas aparente, para “Tuga burro ver”.

Quando afirmamos qualquer coisa, estamos convencidos que a nossa afirmação está correcta e que todos devem corroborar essa opinião. Ou seja, qualquer proposição nossa é uma tentativa de imposição aos outros da nossa “verdade”.

Por exemplo, se alguém afirma categoricamente que “não existe qualquer verdade”, pretende afirmar uma verdade, acabando, por isso, por se contradizer ― porque se alguém afirma algo, está convencido que a sua afirmação está correcta e que todos devem corroborar essa opinião. Por conseguinte, essa pessoa pressupõe que existem afirmações que possuem uma validade incondicional, ou sejam, verdades incondicionais. Isto significa que quem afirma que “não existe qualquer verdade” pressupõe ― mesmo que essa afirmação possa estar errada ― que a verdade e o erro se excluem mutuamente, e em consequência, existe entre a verdade e o erro uma diferença que não pode ser relativizada. Por outras palavras: quando alguém diz que “tudo é relativo porque não existe qualquer verdade”, cai em auto-contradição e no absurdo.

O Ludwig Krippahl escreve o seguinte:

“Como ninguém tem o dever de tratar todos por igual, até um racista homofóbico e machista tem direito de o ser em tudo o que disser respeito à sua liberdade pessoal, de consciência e de expressão. Só quando passamos para aquilo que se impõe aos outros, como leis, regras sociais ou tradições, é que esta discriminação se torna ilegítima”.

Ou seja, o problema começa quando a nossa “verdade” é imposta aos outros pela coerção da força bruta do Estado, e não através da persuasão que cria tradição e que, em grande medida, dispensa a violência do Estado.

Mas o Ludwig Krippahl pensa que que as regras sociais e as tradições podem ser formas de “imposição ilegítima de discriminação” — o que pode ser verdade: por exemplo, a tradição islâmica da excisão feminina é discriminatória. Ou seja, ele coloca num mesmo plano de análise uma qualquer tradição ou regra moral, por um lado, e a força violenta da lei, por outro lado.

Porém, as tradições não são todas iguais ou mesmo equivalentes, por um lado, e por outro lado é impossível conceber uma sociedade perfeita e desprovida de “mal”. Quando analisamos as tradições de uma sociedade não podemos dissociá-las do sistema de tabus dessa sociedade, porque uma cultura sem tabus é um círculo quadrado.

Nas tradições, o que devemos procurar é o “menos mau”, e não a perfeição que não é possível; e esse “menos mau” deve estar simultaneamente de acordo, o mais possível, com alguns princípios éticos fundamentais decorrentes do Direito Natural — por exemplo, é ilegítimo espancar alguém com um barrote, a não ser que esse alguém coloque em causa a minha integridade física (auto-defesa); e o Direito Positivo não se deve divorciar do Direito Natural.

Por exemplo, é absurdo que uma determinada “elite” política defenda, por lei, o aborto livre de seres humanos, e simultaneamente pretenda proibir as touradas: os tabus são coercivamente invertidos: aquilo que era proibido pela tradição passou a ser permitido, e vice-versa. E há quem defenda (os libertários de Esquerda, e os de Direita ou anarco-capitalistas) que não devem existir quaisquer tabus, o que nega a própria existência de uma qualquer sociedade.

As regras sociais e as tradições não são todas iguais, e devem ser analisadas com os miolos e não com o coração.

“É menos provável que a polícia agrida uma pessoa branca do que pessoas de outras raças ou etnias.”

Se eu não pago impostos, tenho a polícia à perna — independente ser branco, preto ou marciano. Não me parece que alguém que pague os seus impostos tenha a polícia à perna só porque é preto. Quando a polícia agride alguém, é porque existe uma razão objectiva para o fazer (a não ser que o Estado de Direito seja uma treta), por um lado, e por outro lado, muitas vezes, porque existe uma subcultura de resistência à lei.

Podemos questionar a lei!; mas não podemos afirmar que, por princípio, a polícia não segue a lei.

“É quando o criacionista quer impingir as suas tretas aos miúdos na escola, ou o neonazi quer expulsar todos os estrangeiros, que temos de dizer não. Pensem o que quiserem, mas portem-se como deve ser”.

Ou seja: há “comportamentos” mais positivos do que outros (para não dizer que os outros são negativos). O “criacionista da treta” não pode doutrinar os miúdos, ¿mas os ideólogos de género já podem impôr as suas tretas aos miúdos?! O critério da imposição da treta parece ser subjectivo. ¿O “bom comportamento” depende a verdade privada do Ludwig Krippahl?

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