segunda-feira, 6 de junho de 2016

O Frei Bento Domingues e o epicurista papa Francisco

 

1/ O Frei Bento Domingues escreveu o seguinte:

“Para o grande cientista, Francisco J. Ayala, professor de Genética na Universidade da Califórnia, o comportamento ético é determinado pela nossa natureza biológica. Por comportamento ético, ele não entende a boa conduta, mas o imperativo de julgar as acções humanas como boas ou más.

A constituição biológica do ser humano determina-lhe a presença de três condições necessárias – e, em conjunto, suficientes – para que se dê esse comportamento ético: a capacidade de prever as consequências das suas próprias acções; a de fazer juízos de valor; a de escolher entre linhas de acção alternativas. A capacidade de estabelecer relação entre meios e fins é a aptidão básica que permitiu o desenvolvimento da cultura e das tecnologias humanas.

Este cientista sustenta que as normas morais e os códigos éticos não dependem da nossa natureza biológica, mas da evolução cultural. As premissas dos nossos juízos morais provêm da tradição religiosa e de outras tradições sociais, mas apressa-se a acrescentar: os sistemas morais, assim como qualquer outra actividade cultural, não podem sobreviver muito tempo se evoluem em franca contraposição com a nossa natureza biológica”.

O Frei Bento Domingues utilizou todo este relambório para dizer o seguinte:

“Uma cultura e uma sociedade não podem sobreviver se se posicionarem contra a Natureza”.

Por um lado, o Frei Bento Domingues concorda com o papa Chiquinho que mantém reservas sobre o dogma da infalibilidade do papa; mas, por outro lado, o Frei Bento Domingues serve-se do dogma da infalibilidade do papa para deificar o Chico ao ponto de o comparar com o próprio Jesus Cristo.

Por um lado, o Frei Bento Domingues concorda com o papa Chiquinho que mantém reservas sobre o dogma da infalibilidade do papa; mas, por outro lado, o Frei Bento Domingues serve-se do dogma da infalibilidade do papa para deificar o Chico ao ponto de o comparar com o próprio Jesus Cristo.

Ele podia ter resumido o trecho a uma linha; mas teve que se escorar na autoridade de direito da ciência para corroborar a própria Lógica. A Lógica passou a depender de uma qualquer teoria científica: faz falta que apareça uma teoria científica que defenda a ideia de que “a Lógica não existe” senão como uma construção cultural e social, e que tenha por defensores os amigos do Frei Bento Domingues da Esquerda romântica.

Vivemos em um tempo alienado, em que é preciso recorrer à ciência positivista para demonstrar uma qualquer evidência. Um dia destes, terei que recorrer à ciência para provar que eu existo, mas manter-se-á o “escândalo da razão”, de Kant, segundo o qual não me é possível, em bom rigor, provar nada exterior a mim mesmo. Como dizia Karl Popper (um kantiano), o mundo exterior a nós próprios é apenas uma hipótese de trabalho para a ciência.

2/ o segundo ponto do texto de Frei Bento Domingues (ver aqui ficheiro PDF), como não podia deixar de ser, é uma ode ao caudilho Francisco. O Frei Bento Domingues começa por dizer que Jesus Cristo quebrou regras da tradição; e por isso, o papa Chico também as pode quebrar — na medida em que o Chiquinho é comparável a Jesus Cristo. O Frei Bento Domingues reduz o Cristo Jesus, de S. Paulo, a uma espécie de um qualquer argentino modernista. Segundo o Frei Bento Domingues, qualquer bicho careta é comparável a Jesus Cristo.

Esta deificação do papa Chico aflige-me. Não me lembro de ter acontecido com outros papas da minha vida — por exemplo, com João Paulo II ou Bento XVI. Por um lado, o Frei Bento Domingues concorda com o papa Chiquinho que mantém reservas sobre o dogma da infalibilidade do papa; mas, por outro lado, o Frei Bento Domingues serve-se do dogma da infalibilidade do papa para deificar o Chico ao ponto de o comparar com o próprio Jesus Cristo.

“O Papa Francisco, ao propor o Evangelho da Alegria, como base das suas reformas libertadoras, encontrou um terreno armadilhado com doutrinas e práticas pastorais, com sistemas de resistência, a nível central e local, de cardeais, bispos, padres e leigos clericalizados e mais papistas que o Papa. Como Bergoglio disse, o medo da alegria é uma doença do cristão. São como aqueles animais, especificou o Papa, que conseguem sair apenas de noite, porque à luz do dia não conseguem ver nada. São os cristãos morcegos”.

Este trecho é extraordinário! O Chiquinho (e o Frei Bento Domingues) faz lembrar os epicuristas, que confundiam “virtude” com “busca da felicidade”, e que, sendo que a “busca da felicidade” varia de indivíduo para indivíduo, não pode servir de base a nenhuma norma universal (não pode servir de base a nenhuma moral propriamente dita, porque os valores da ética são sempre universais) → logo, a “busca da felicidade” não pode servir de base a nenhuma moralidade. Em vez de “busca da felicidade”, o epicurista Chico identifica a virtude e a felicidade, por um lado, com a “busca da alegria”, por outro lado. Qualquer pessoa com o 12º ano de filosofia constata que o papa Chico é um charlatão.

3/ o terceiro ponto do Frei Bento Domingues é uma crítica a quem critica o Islamismo. Como qualquer esquerdista vulgar e ordinário, o Frei Bento Domingues considera que todas as religiões são boas (ou então, que são todas iguais), sem excepção. A julgar pelo pensamento do Frei Bento Domingues (e do Daniel Oliveira, por exemplo), a religião dos animistas canibais da Papua-Nova Guiné é equivalente ao Cristianismo, e por isso não merece ser “diminuída”: devemos abster-nos de criticar a religião dos canibais. Atingimos o grau zero da inteligência e chegámos já ao imbecil colectivo.

O Cristianismo primordial — defendido não só pelos discípulos de Jesus Cristo e pelos primeiros apóstolos, mas também pela patrística e por Santo Agostinho — era exclusivista: na Antiguidade Tardia, quem era cristão não podia ser pagão. Hoje, o papa Chiquito vem defender o contrário da tradição primordial do Cristianismo (porque o Chico é uma espécie hipóstase de Jesus Cristo na Terra): para ele, um cristão pode ser canibal animista, hinduísta, budista, muçulmano, etc., tudo isto em nome do conceito indefinível de “ética intercultural”.

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