domingo, 24 de julho de 2016

Os dogmatismos

 

Nós devemos ser cépticos; o cepticismo é saudável. Mas vejamos o que significa “cepticismo”.

O cepticismo não afirma que a verdade é inacessível, mas sim que não podemos ter a certeza de a alcançar. Não devemos confundir a dúvida céptica dos gregos, que tem por objectivo uma suspensão definitiva da opinião, por um lado, e a dúvida metódica (Descartes) que é provisória e estabelecida visando a descoberta da verdade, por outro lado.

David Hume propôs um “cepticismo académico”, segundo o qual é impossível duvidar de tudo, mas é saudável conhecer a fragilidade dos nossos conhecimentos, mesmo daqueles que nos parecem mais seguros. O cepticismo torna-se então como um instrumento contra o dogmatismo, no sentido de ser contra uma confiança demasiada no poder da razão humana.

Ou seja, David Hume corrobora a opinião de G. K. Chesterton: “a humanidade é composta por dois tipos de pessoas: as que têm dogmas mas sabem que os têm, e os que têm dogmas mas que não reconhecem que os têm”. Nos casos do Ludwig Krippahl e do Matts, ambos não reconhecem que se regem por dogmas.

O problema da ciência não é o de cometer erros; é o de que, enquanto os erros não são corrigidos, esses erros serem considerados como verdades assumidas — porque o cientista também é um ser humano sujeito ao dogmatismo do paradigma  (por exemplo, o Ludwig Krippahl). “A maior fé que existe é a do cientista, porque é inconfessável” (Roland Omnès).

Portanto, a nossa posição em relação à ciência deve ser céptica. Mas ser céptico em relação à ciência não significa que devemos colocar em causa a própria essência da ciência, porque isso seria “deitar fora o bebé com a água do banho”.

O Ludwig Krippahl extrapola o domínio da ciência para uma espécie de metafísica negativa (ateísmo), e o Matts não sabe qual é o domínio da ciência quando a contrapõe à religião. A ciência propriamente dita não se opõe à religião, nem pode fazê-lo por limites que lhe são próprios.

Por exemplo, a ideia do Matts segundo a qual “os dinossauros viveram há cinco mil anos” é uma completa aberração. Ele perde credibilidade na defesa da religião, porque confunde os símbolos (como representações da realidade) com a própria realidade. Ou seja, o Matts é céptico em relação ao darwinismo (eu também), mas já não é céptico em relação à possibilidade de os dinossauros terem existido há cinco mil anos.

O Ludwig Krippahl fala em “teoria darwinista”.

Em ciência, uma teoria é uma síntese que engloba leis naturais (por exemplo, a teoria da gravitação engloba a lei da queda dos corpos ) destinada a considerar os dados da experiência.

Mas, segundo Karl Popper, não é possível compreender totalmente uma teoria formulada, porque é impossível conhecer todas as suas conclusões lógicas — ou seja, é impossível excluir o surgimento de contradições internas dentro de uma teoria. A verdade científica não pode ser provada com certeza nem através da experiência e nem através da intuição intelectual, porque na ciência não existe nenhum indicador infalível para a verdade.

“As nossas teorias científicas, por melhor comprovadas e fundamentadas que sejam, não passam de conjecturas, de hipóteses bem sucedidas, e estão condenadas a permanecerem para sempre conjecturas ou hipóteses”

– Karl Popper, em conferência proferida em 8 de Junho de 1979 no Salão Nobre da Universidade de Frankfurt , por ocasião da atribuição do grau de Doctor Honoris Causa

Portanto, devemos ver nas teorias científicas uma espécie de “moda”. Há teorias que estão na moda e que vão deixar de estar. Mas cada “moda” tem símbolos, e são esses símbolos que devem ser criticados pela razão, pela lógica, e pelos dados da experiência das ciências empíricas e das ciências formais.

Esta minha posição não significa que eu seja agnóstico ou ateu. Significa apenas, por exemplo, que a experiência humana demonstrou que os dinossauros não viveram há cinco mil anos, e que o darwinismo é um mito — é uma moda — porque é impossível explicar a mutação das formas.

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