segunda-feira, 17 de abril de 2017

A irracionalidade do Anselmo Borges

 

¿Como é que eu posso afirmar que “é evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima”?

“É preciso também distinguir aparições de visões. É evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima. Uma aparição é algo objectivo. Uma experiência religiosa interior é outra realidade, é uma visão, o que não significa necessariamente um delírio, mas é subjectivo.”

Anselmo Borges


Quando alguém diz que “é evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima”, pretende demolir um dogma católico por intermédio de um pensamento dogmático — porque de facto não é evidente, por exemplo, que não existem extraterrestres. Uma pessoa que diga que “é evidente que não existem extraterrestres”, é estúpida e possui um pensamento dogmático. O mais que eu posso racionalmente dizer é que não é provável que existam extraterrestres; mesmo assim, a minha afirmação é controversa.

Ora, a pior coisa em religião e em teologia é a existência de um pensamento dogmático que critica os dogmas vigentes e ancestrais (novos dogmas que tentam demolir a tradição).

Se há coisa evidente nos acontecimentos de Fátima de 1917, é que nada é evidente (ver o que significa “evidência”). Exactamente porque nada é evidente em Fátima de 1917, é que o Anselmo Borges é burrinho; ele pode receber todos os salamaleques do mundo, mas o rei vai nu.

O Anselmo Borges gosta de ser do contra; ser do contra enche-lhe o ego, à laia do reviralho revolucionário. Ora, devemos ser do contra sempre que seja provável que o contra tem razão — e não, como acontece com o Anselmo Borges: ser do contra para ganhar notoriedade académica e pública, e vender livros, e independentemente da razão.


Do ponto de vista da filosofia, o Anselmo Borges está ultrapassado; ele já não tem autoridade de facto para dar aulas de filosofia. Pode ser teólogo, mas hoje qualquer merda é teólogo. Hoje, um professor universitário de filosofia tem que ter bases suficientes (não precisa ser especialista)  em matemática (e não só em lógica) e em Física (incluindo a física quântica).

O Anselmo Borges diz que “é evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima”, porque, alegadamente, “uma aparição é algo objectivo”.

¿O que significa “objectivo”?

É sinónimo de “intersubjectivo” (definição nominal). Quando três crianças (e não só uma) vêem a mesma coisa, trata-se de um fenómeno intersubjectivo, ou seja, objectivo. O problema é o de saber se a coisa vista pelas três crianças (e não só por uma) é o que elas julgam que viram — mas seria estúpido e dogmático dizer-se que “é evidente que não foi aquilo ou não foi aqueloutro”.

Em toda a minha vida, eu passei talvez meia-dúzia de vezes pelo santuário de Fátima e nunca lá estive por ocasião do 13 de Maio. Estou à vontade para falar porque não sou, por assim dizer, um “fanático de Fátima”. Mas hei-de lá ir em um 13 de Maio futuro, se Deus quiser.

Seguindo o raciocínio do Anselmo Borges, poderia dizer-se: “é evidente que Jesus Cristo não ressuscitou”, porque “uma aparição de Jesus depois de morto seria algo objectivo, o que não foi o caso”. O chip que regula o software do pensamento do Anselmo Borges é positivista — nem sequer é o mais moderno, em termos científicos: Anselmo Borges vive no século XIX.

Aqui, o problema do Anselmo Borges é o conceito de “objectivo”.

Em ciência (positivista), é objectivo um fenómeno que se mede estatisticamente mediante repetição verificada (verificação) de forma intersubjectiva (objectiva), ou através da indução que, em epistemologia, é uma inferência conjectural e não-demonstrativa que obtém leis gerais por intermédio de casos particulares.

É certo que o Anselmo Borges não compreendeu Karl Popper (o que não é invulgar); e muito menos compreendeu Niels Bohr, Heisenberg, Wolfgang Pauli, David Bohm, John Wheeler, etc.. o Anselmo Borges precisa de se actualizar; mas duvido que burro velho retome andadura.


Não podemos separar a matéria, por um lado, da pessoa, ou do modo como a pessoa observa, por outro lado.

A única realidade que existe são as respostas às nossas perguntas, e a única coisa que conhecemos do mundo são os resultados das nossas experiências. Isto significa que os elementos básicos do mundo têm uma origem imaterial que, aliás, define a “consciência”: a consciência é uma experiência originária — comprovável a nível intersubjectivo — que antecede a experiência objectiva, tanto em termos lógicos como também em termos existenciais.

Uma imagem que vemos (“nós vemos”, intersubjectivamente, ou objectivamente, o que é o mesmo) não é menos o resultado das nossas acções do que, por exemplo, uma imagem que pintamos, ou de uma casa que construímos.

A realidade do nosso mundo é um facto (do latim facere = fazer); portanto, algo feito por nós; algo feito pelo Anselmo Borges, por exemplo, ou feito pelos três pastorinhos e pelas milhares de pessoas que testemunharam a dança do Sol em 1917, em Fátima. Não há razão nenhuma objectiva (ou seja, intersubjectiva) para que possamos supôr que “os factos do Anselmo Borges” tenham uma valia superior à dos “factos de milhares de pessoas” que assistiram (objectivamente, ou seja, intersubjectivamente) aos fenómenos de Fátima em 1917.

O nosso comportamento, perante a realidade, não é passivo: pelo contrário, nós participamos activamente na construção da realidade — sem que, contudo, criemos a “realidade em si mesma”, porque, em regra, não inventamos os dados a partir dos quais o nosso cérebro constrói as coisas; mas somos criadores da “realidade para nós”, o nosso cérebro monta precisamente aquelas coisas que estamos (todos nós, ou todos os milhares de pessoas em Fátima em 1917, de forma intersubjectiva, ou seja, objectiva) a ver a partir dos dados da “realidade em si”. Isto justifica aquilo que se disse em S. Mateus 13,58:

“E Ele não fez ali muitos milagres, por causa da falta de fé daquela gente”. [O Anselmo Borges também estava lá, no meio daquela gente].

Não podemos separar a realidade, por um lado, da pessoa, ou do modo como a pessoa observa, por outro lado. Só podemos limitar-nos a esperar que a “realidade para nós”, por um lado, e a “realidade em si”, por outro lado, sejam tão semelhantes quanto possível — o que levou à definição de “verdade” por parte de S. Tomás de Aquino:

«A verdade é a adequação entre a inteligência que concebe (a “realidade para nós”), e a realidade (“a realidade em si”)».


Não temos qualquer acesso ao mundo independentemente da interpretação — nem no conhecimento, nem na acção, nem em qualquer outro lugar.

Ora, não há nenhuma razão objectiva para supormos que a interpretação do Anselmo Borges é superior ou mais válida do que a interpretação intersubjectiva dos três pastorinhos, ou do que a interpretação objectiva (intersubjectiva) de milhares de testemunhas em Fátima de 1917.

O Anselmo Borges acredita que ele sabe como está estruturada a “realidade em si”, para além da interpretação humana.

Trata-se de um pensamento dogmático do Anselmo Borges — porque o pensamento humano não é capaz, por princípio, de dizer como se estrutura a “realidade em si”. Portanto, o que está por detrás das nossas construções intersubjectivas da realidade é um mistério — e foi o que se passou em Fátima de 1917: um mistério —, mistério esse que nos fornece os dados para a interpretação, mas que permanece eternamente incognoscível.

A única coisa que podemos dizer, com certeza, sobre a "a realidade em si", independente de nós, é como ela não é (conceito negativo), porque quando as nossas construções fracassam (como fracassou o positivismo do Anselmo Borges, ou o romantismo dele), deparamo-nos com a realidade “por detrás” da nossa construção da realidade. Porém, dado que só podemos descrever e explicar sempre o nosso fracasso através dos conceitos que utilizámos para a construção das estruturas falhadas, isso nunca nos pode proporcionar uma imagem do mundo que pudéssemos responsabilizar pelo fracasso.

É o que acontece com o Anselmo Borges: ele explica o fracasso da teologia cristã através de conceitos que ele próprio utiliza para a construção das suas estruturas pessoais falhadas, e por isso, ele nunca terá uma imagem do mundo que possa responsabilizar-se pelo seu próprio fracasso interpretativo.

Eu nunca vi o Anselmo Borges — nem na televisão, nem pessoalmente. Apenas vi fotografias dele nos jornais; mas uma fotografia não tem vida própria.

Contudo, seria estúpido da minha parte se dissesse que “é evidente que o Anselmo Borges não existe”, apenas e só porque nunca o vi pessoalmente. Chegam-me testemunhos de milhares de pessoas que dizem que o Anselmo Borges existe, ou seja, a figura viva do Anselmo Borges é intersubjectiva (ou objectiva). Se nós só acreditarmos naquilo que virmos, seríamos da espécie do “Anselmo Borges”.

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